VERGONHA – POR AKIM ROHULA NETO‏

AKIM ROHULA NETO

Sentir vergonha tem, em geral, a ver com a concepção de que aquilo que se deseja é, de alguma maneira inadequado ou que a pessoa é inadequada para aquilo que deseja.


Vergonha. Existem tantas vergonhas que poderíamos ter várias palavras para a “mesma” emoção. A sensação embaraçosa de dizer algo errado num encontro com pessoas que você não conhece muito bem, a vergonha solitária que sentimos quando se pensa em paquerar uma pessoa, o embrulho no estômago de confessar um defeito ou, simplesmente, a sensação de freio puxado, segurando ao mesmo tempo que impulsiona nossa ação de falar nossa opinião numa reunião.

Muitas pessoas empregam a vergonha como uma forma de sociabilização. Existem formas de “mostrar escondendo” que atraem pela curiosidade e pela compaixão. Pessoas que usam a vergonha desta maneira com consciência são raras, porém vários “envergonhados” se identificam com o comportamento ao percebê-lo.

Sentir vergonha tem, em geral, a ver com a concepção de que aquilo que se deseja é, de alguma maneira inadequado ou que a pessoa é inadequada para aquilo que deseja. A sentimento de inadequação cria uma situação na qual a pessoa sente, ao mesmo tempo, o desejo de algo e a inadequação para atingir este desejo.

A vergonha é sentida como uma emoção “moral”, ou seja, a inadequação, aqui, não tem a ver, necessariamente, com a competência para atingir algo de fato e sim com a percepção de se é inadequado desejar aquilo, “imoral” de alguma maneira ou de que o desejo é adequado, mas a pessoa inadequada.

A pessoa com vergonha esconde. Seu maior medo é de expor aquilo que esconde justamente por entender que é moralmente condenável. No entanto, o ato de esconder, também implica no ato de manter aquilo que se esconde. Este jogo de “esconde – esconde” da pessoa para com sua moral é dirigida aos outros e ela sente vergonha “do que vão pensar”, “do que acham dela” ou do que “vão dizer” caso eu exponha o que quero.

O desafio, ao contrário do que se pensa, não é expor, mas, sim, retirar a restrição moral que organiza aquilo que é escondido. A moralidade precisa ser vista e compreendida como o real motivo que faz a pessoa desejar manter seu desejo escondido, porém, sempre à vista. É esta moralidade que contém a chave que poderá “abrir” a pessoa e, com isso, estar exposto.

Uma vez aberta a pessoa pode, então, compreender a função da vergonha: verificar aquilo que é ou não moral, aquilo que, de fato, é importante de ser escondido. No entanto, quando a moral não é afetada o importante é agir.


AKIM ROHULA NETO – Atua como Psicólogo Clínico desde março de 2004 com Psicoterapia individual, de casal e família em consultório próprio. Saiba mais.