UM MOMENTO CHAMADO “VOCÊ” POR AKIM ROHULA NETO

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 Todas as doutrinas filosóficas e religiosas falam de momentos de introspecção, momentos em que é importante olhar para dentro. Esses são os momentos que fazem com que a pessoa rompa com conceitos e entre em contato com a vida.


Clement Rosset escreveu que o eu é apenas mais uma experiência. A frase me pegou de surpresa e fez todo sentido. Aquilo que chamamos “eu” é apenas uma experiência dentre as inúmeras que temos, inclusive aquelas de não sabemos se podemos chamar ou não de “eu”: chamamos a dor de cabeça de eu? Dizemos que temos uma dor de cabeça, mas não que somos uma dor de cabeça, interessante visto que a dor ocorre no mesmo “local” que associamos ao eu: nosso cérebro.

Aceitar o eu como uma experiência, no entanto, não é algo que o diminui, pelo contrário, experiências são importantes pois é nelas que a vida ocorre. Assim, trago um outro autor chamado Joseph Campbell que diz que todos devemos ter “um momento sagrado”. O que é um momento sagrado? Um local, uma atividade ou um horário do dia em que você se desconecta deste mundo e se conecta à você, à experiência de ser você.

Pode parecer algo estranho e chato à princípio. Porém se somos uma experiência precisamos de um momento para acontecermos (ou uma atividade ou um local com o qual nos identificamos). Compreender que a experiência de eu é algo sagrado, é a base da espiritualidade. A partir da experiência e não da conceituação do que somos é que podemos nos abrir para os mistérios que habitam em nós, assim como para a manifestação daquilo que existe de sagrado em nós.

Todas as doutrinas filosóficas e religiosas falam de momentos de introspecção, momentos em que é importante olhar para dentro. Esses são os momentos que fazem com que a pessoa rompa com conceitos e entre em contato com a vida. Jung certa vez colocou que a religião é uma defesa contra a experiência religiosa. Ele queria dizer que muitas pessoas se atém à conceitos e não à prática desses conceitos. Apenas repetir algo não o torna detentor daquele conhecimento, não o torna um prático, alguém que assimilou a verdade por experiência.

No caso de quem somos é a mesma coisa. Versar sobre “quem sou” e viver quem eu digo que sou – ou o que realmente sou – são coisas diferentes. Não é difícil perceber uma pessoa que é cheia de discurso, mas vazia de prática. Nos dias de hoje este é um “lugar comum”, infelizmente.

Porém ao dar-se tempo para experimentar-se podemos realmente compreender o que há em nós que está além do tempo, além do movimento, e, então entrar em contato com o que há de sagrado em nós, com nosso essência. Você se dá esses momentos? Então se dê, para mim é o ato de beber um copo de café qual o seu?


AKIM ROHULA NETO – Graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em Psicologia Corporal pelo Instituto Reichiano Psicologia Clínica e Centro de Estudos e em Programação Neurolingüística. Saiba mais.

akim@uol.com.br