VERDADE

283_história_5_1A verdade é um lar: um local que abriga a vida, providencia suas necessidades e lhe permite ser ela mesma.

Muitos de nós, neste início de milênio, professamos um “lado espiritual”, um “eu religioso” ou seja qual for o nome que damos àquela parte de nós mesmos que está em sintonia com Algo Mais Elevado. Portanto, a questão não é realmente se temos um lado espiritual, mas do que se trata, exatamente. Tem a ver com o auto-aperfeiçoamento, como uma aula de trabalhos manuais, ou uma sessão de terapia? Seria um dever, como obedecer à lei do país e sair para trabalhar pela manhã? Ou simplesmente trata-se daquilo que você é?

O Talmud, voltado para esta questão há mais de 1500 anos, colocou-a nestes termos: como você chama o lugar que D’us ocupa em sua vida – uma montanha, um campo, ou uma casa?

Ele representou algo mais para cada um dos Patriarcas fundadores do povo judeu. Há um local – o Monte do Templo em Jerusalém – que a Torá considera o ponto chave da presença de D’us neste mundo. Quando Avraham lá esteve, foi chamada de “a montanha da revelação de D’us.” Para Yitschac, o lugar foi “um campo.” Yaacov passou lá uma noite e o proclamou “a casa de D’us.”

Os Cabalistas englobaram a vida dos três Patriarcas deste modo: Avraham foi a personificação do amor, Yitschac a reverência, e Yaacov foi a essência da verdade.

O problema com o amor é que ele pode ir longe demais, sobrepujado até o limite entre o “eu” e o outro, até tornar-se asfixiado e decadente. Avraham foi a perfeição do amor, mas seu filho, Yishmael, foi um exemplo do amor descontrolado. O problema com a humildade, comprometimento e auto-disciplina, é que podem se transformar em crueldade – Essav (Esaú) é um exemplo do que seria Yitschac se tivesse se corrompido.

A verdade, por outro lado, é aquilo que é; não porque está tentando atingir algo ou porque está recuando. Verdade é o amor que respeita os limites; a verdade é o comprometimento mesclado com a compaixão. A verdade não é uma montanha, em pedaço de terra tentando ser o céu; também não é um campo, aplainando-se até o chão para submeter-se ao arado e à enxada. A verdade é um lar: um local que abriga a vida, providencia suas necessidades e lhe permite ser ela mesma.

É claro que o lar não pode existir sem a montanha e o campo. A verdade sem paixão está morta; a verdade sem o comprometimento é infundada. Para que nos tornemos nós mesmos, devemos escalar nossas montanhas e arar nossos campos. Porém devemo-nos lembrar que a vida realmente vivida não é conquistar ou submeter-se, mas habitar nossas conquistas e comprometimentos. Ou, como expressa o Midrash: fazer do mundo uma morada para D’us.

Fonte: http://www.beitchabad.org.br/

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