NO RJ, A EXPOSIÇÃO DESCARTES, DA ARTISTA PLÁSTICA MYRIAM GLATT
 Pintura acrílica sobre recorte de jornal
Pintura acrílica sobre recorte de jornal
Foi aberta no Rio de Janeiro, no Centro Cultural Correios, onde poderá ser vista até o próximo dia 29 de outubro, a exposição “Descartes” da artista plástica Myriam Glatt.
Sobre as obras da artista veja abaixo texto assinado pela crítica curatorial Keyna Eleison.
Faço, logo existo.
Para o Centro Cultural dos Correios, Myriam Glatt expõe obras que transcorrem um universo originado a partir do encontro não planejado com um material: o papelão. Foram caixas de papelão vistas pelas ruas que acenderam a potência do que será visto: Colagens, pinturas, desenhos, fotos e vídeo.
Nas colagens ou relevos, peças de papelão se prestam ao papel de suporte e são objeto. As cores e os formatos são absorvidos e colocados em uma ordem que não se propõe harmônica e sim habitam o mundo do jeito que deveriam ser.
O tempo, sempre se quis domar, e na repetição dos trabalhos com jornal parece que ele não passa, permanece. Notícias de um periódico e suas informações do caderno de artes são arte? O que revela? o que releva?
Se são notícias de arte, são arte ou serão suporte para a mesma? Cada trabalho da série a mesma rosa. Não se pode parar o tempo com a mão mas se pode colocar em momentos distintos o mesmo desabrochar.
Nos seus quadros, o retorno a si mesma: a pintora. A tinta na tela faz o sentido, é possível ver sua auto influência, se apropriando dos contornos das colagens ao se colocar na frente da tela. A Natureza, explosiva e latente percorre nossos olhos através de seu movimento, as pinturas saem da tela e voltam a ser objeto sem tentar a tridimensionalidade, Myriam já nos ensinou a olhar.
Em suas fotografias e no vídeo o caixote de papelão é o protagonista, mesmo sendo ele o intruso na paisagem.
Myriam dá ao material uma transcendência necessária. O material pode chegar a qualquer ponto; a artista decide o que é tela, o que é tinta, o que é modelo e o que é obra.
E ela não se esgota, e ele não se esgota. A artista segue a fazer, cortando, colando, pintando,fotografando, filmando e a cada repetição surge algo novo do mesmo.
A exposição se chama descartes, não pela influência do filósofo René, com o seu famigerado “penso, logo existo” que em nada orbita no cerne do fazer ou do pensar da obra de Myriam Glatt. Se em Descartes a mente está totalmente separada do corpo, com a artista já temos o alcance que somos polisegmentados e um só.
Sua arte não se fixa, está em constante mudança, se dá ao luxo de testar e não se coloca em desafios óbvios. Na exposição pode-se fruir de temas que ela mesma se coloca: repetição, apropriação, natureza e tempo. Seu trabalho é constante e rizomático, rizoma este que tem o mesmo início, o fazer artístico de Myriam, e não sabemos para onde sua obra pode seguir.
Keyna Eleison – crítica curatorial
 
						













