IMAGENS DA PAZ – DR. TALI LOEWENTHAL, DIRETOR DO CHABAD RESEARCH UNIT, LONDRES

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Em todos os aspectos da vida judaica, nós estamos buscando tanto a perfeição espiritual para nós mesmos,

como também “para aperfeiçoar o mundo sob o reinado de D’us” .

 

A Arca de Noach representa a idéia da sobrevivência da vida em meio à destruição total. A leitura da Torá desta semana descreve como o Dilúvio cobriu todo o mundo, mas Noach, sua família e os milhares de animais abrigados na Arca foram salvos.

 Uma imagem da Arca descrita pelos Sábios é o da paz. Diversas espécies de animais, que, em outras ocasiões, lutariam entre si ou devorariam uns aos outros, habitaram calmamente juntos. A Arca é descrita como tendo a qualidade espiritual do Mundo Vindouro, onde tudo está em unidade e todo conflito é dissolvido. 

Este aspecto da Arca também se liga ao tema da sukkah, a cabana com seu teto de galhos e folhas que foi o foco da festa de Sukkot há cerca de duas semanas. Nos ensinamentos chassídicos, a Arca e a sukkah são comparadas entre si como um mundo de paz [1]. Apesar da festa de Sukkot ter terminado, a imagem dasukkah como uma fonte de paz continua. Toda semana, nas rezas do anoitecer de sexta-feira, nós pedimos que D’us “espalhe sobre nós a sukkah de Tua paz”. Nós estamos pedindo a D’us que a paz espiritual da sukkah, como aquela da Arca de Noach, seja espalhada sobre cada um de nós como indivíduos e sobre o Povo Judeu. 

Entretanto, não é suficiente que haja paz somente para o Povo Judeu. É realmente necessário que haja paz para todo o mundo. O incrível poder dos ensinamentos judaicos é o de que, potencialmente, também existe um efeito duplo em tudo o que fazemos: seja no estudo da Torá, na reza ou na prática das mitzvot, há um aspecto que conecta a pessoa a D’us, e também há um aspecto complementar que traz a Divindade para o mundo [2]. Em todos os aspectos da vida judaica, nós estamos buscando tanto a perfeição espiritual para nós mesmos, como também “para aperfeiçoar o mundo sob o reinado de D’us” [3].

 Da mesma forma, um aspecto da Arca de Noach é o de que ela representava espiritualidade, santidade e paz suprema para Noach e sua família que estava dentro dela. Outro é o de que, uma vez que o dilúvio terminou e eles deixaram a Arca, sua tarefa foi expressar estas qualidades no mundo como um todo.

 Isto significava obedecer às Sete Leis de Noach, as instruções Divinas dadas a Noach e seus descendentes. As Leis de Noach constituem sete regras gerais de bondade para toda a humanidade, incluindo respeito pela santidade da vida. No centro da sociedade global está o ponto onde, dizem-nos nossos Sábios, Noach ofereceu sacrifícios a D’us ao deixar a Arca ao final do Dilúvio [4]. Este é o mesmo local do Templo de Jerusalém. Aqui está o ponto focal onde o próprio Povo Judeu se reúne ao Divino e, ao mesmo tempo, como descrito acima, traz bênçãos ao mundo.

Finalmente, isto levará à consciência da Presença Divina através da existência: “O mundo será preenchido com o conhecimento de D’us como as águas cobrem o mar” (Yeshayahu 11:9) – uma imagem que por si só se conecta com aquela das águas do Dilúvio, porém de uma forma positiva. Pois, de fato, na época do Mashiach, todo o mal mudará para bem, e todo conflito será transformado em paz.


REFERÊNCIAS

1.  Ver as fontes em Sefer HaMamarim Melukat vol. 1, p. 177 nota 31.

2.  Ver Likkutei Sichot, vol. 35, p.10.

3.  Texto da reza de Aleinu.

4.  Bereshit 8:20; Mishneh Torah, Leis do Templo 2:2.


 

Tradutor: Moishe (a.k.a. Maurício) Klajnberg