O VÍRUS E O GUARDA-CHUVA – RABINO NILTON BONDER
Estamos em tempos históricos, não tanto pelas proporções desta pandemia, mas porque neles podemos aferir se em algo evoluiu a Humanidade.
Não me refiro às tecnologias, mas ao espírito humano. Desde Noé, a reação humana diante de desafios de sobrevivência parece não ter mudado muito, visto que cada um trata de construir sua arca para salvar a família e experimentar a sensação de que estamos estocados para a intempérie.
A justificativa moral é que não há o que fazer a não ser resguardar a si próprio, visto que qualquer solidariedade se compara à impotência de distribuir guarda-chuvas para enfrentar um dilúvio. Mas não é bem assim. Cada ato de gentileza conta muito e reforça a imunidade social que é fundamental. Essas gentilezas nutrem a coragem e os sacrifícios sem os quais não se faz o que precisa ser feito.
Além de gentilezas é momento de coerências.
Conta-se que numa seca catastrófica a comunidade resolveu realizar rezas pedindo por chuva. Todos se congregaram na sinagoga, mas o rabino não compareceu. Vieram então busca-lo e ele reagiu: “Eu vi quando todos acorriam à sinagoga com a intenção de oferecer sua devoção… mas não vi uma única pessoa sequer levando um guarda-chuva!”. Se você acredita que sua ação irá impactar, claro, você leva um guarda-chuva! Nossa coerência nas ações faz toda a diferença.
E por último, um conceito do rabino de Lubavitch que ao falar da força espiritual fazia esta imagem: “Alguém já viu um soldado em guerra levar guarda-chuva?”. Temos que encontrar em nós a força para focar no objetivo e tornar qualquer desconforto irrelevante.
Gentilezas, coerências e foco esterilizam este vírus. Precisamos exponencialmente desses atributos para rapidamente achatar a curva desse desafio.
Nilton Bonder é rabino e líder espiritual da Congregação Judaica do Brasil e autor de livros reconhecidos nacional e internacionalmente sobre diversos temas vistos sob uma ótica judaica.
Nota – Matéria publicada pela Congregação Judaica do Brasil