EXODUS-1947 – A ROTINA DE SOFRIMENTO DE SEUS PASSAGEIROS – POR MENDY TAL

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“O Estado de Israel não foi criado em 1948, quando foi formalmente declarado no Museu de Tel Aviv. Nasceu mais cedo, em 18 de julho de 1947, quando um antigo navio americano, bastante danificado, o “Exodus 1947”, arrastou-se para dentro do porto de Haifa”.

Em 18 de Julho de 1947, há 73 anos, acontecia o incidente mais vergonhoso da Grã-Bretanha em relação à imigração judaica em Israel

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Como bem disse Yossi Harel, que liderou o Mossad na década de 1950:

“O Estado de Israel não foi criado em 1948, quando foi formalmente declarado no Museu de Tel Aviv. Nasceu mais cedo, em 18 de julho de 1947, quando um antigo navio americano, bastante danificado, o “Exodus 1947″, arrastou-se para dentro do porto de Haifa”.

Em 18 de Julho de 1947, há 73 anos, acontecia o incidente mais vergonhoso da Grã-Bretanha em relação à imigração judaica em Israel.

A guerra com a Alemanha havia terminado, mas para milhares de sobreviventes do Holocausto, a luta pela sobrevivência estava longe de ser vencida.

Saindo das ruínas da Europa, deslocados de suas casas, com freqüência sem família, posses ou lugar para retornar, esses sobreviventes olhavam para Israel como um lugar para chamar de lar. Mas chegar lá foi uma batalha que poucos viriam a realizar.

Do término da 2a Guerra Mundial até janeiro de 1948, agentes de organizações judaicas, entre as quais a Haganá, o Mossad, o Palmach e o Irgun, haviam conseguido levar para a Eretz Israel 63 embarcações de refugiados judeus, 58 das quais foram interceptadas pelos ingleses.

Dos 23 mil judeus que tentaram entrar “ilegalmente” na Terra de Israel, menos de 5 mil lograram-no, na primeira tentativa. Mas, apesar de todas as dificuldades e perigos – o bloqueio naval britânico, no litoral de Eretz Israel, e os 80 mil soldados britânicos que patrulhavam a região – o “tráfico ilegal” de refugiados judeus não foi interrompido.

A Haganah, que usava navios menores para a imigração judaica clandestina, decidiu que precisava de um navio maior para começar a transportar milhares de refugiados. O navio tinha 330 pés de comprimento e capacidade para aproximadamente 500 passageiros. Foi renomeado como “Exodus 1947” por sugestão de Moshe Sneh, que na época chefiava a imigração ilegal para a Agência Judaica.

A tripulação inicial de mais de 40 homens consistia principalmente de judeus americanos sem experiência em velejar. Mais tarde, juntaram-se a eles os membros da Haganah e Palmach, comandados pelo veterano de Aliya Bet, Yossi Harel.

Yitzhak “Ike” Aronovitz, um marinheiro de 23 anos, originário de Danzig, era o capitão.

Os mais de 4.000 passageiros que embarcaram a bordo do Exodus eram judeus que buscavam sair ilegalmente da Europa para ir à sua Terra, então um protetorado britânico onde viviam árabes e judeus.

O navio partiu do porto de Sète, perto de Marselha, em 11 de julho de 1947, com 4.515 imigrantes, incluindo 655 crianças, a bordo.

Vários bebês nasceram durante a jornada.

De acordo com a historiadora israelense Aviva Halamish, ao contrário de outros navios imigrantes ilegais, o Exodus nunca foi destinado a esgueirar-se para o protetorado, mas para “irromper abertamente pelo bloqueio, esquivando-se rapidamente, encalhando em um banco de areia e deixando lá” a carga de imigrantes na praia.

Ernest Bevin, o Ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha na época, que não disfarçava sua inclinação pró-árabe nem seu antissemitismo, estava determinado a detê-los.

Mesmo antes que o navio deixasse a França, Bevin pressionara o governo francês para que não autorizasse sua saída do porto. Ao saber que as autoridades francesas iriam apreender o navio, sua tripulação decide arriscar-se a sair do porto, mesmo sem a ajuda de um rebocador ou de um marinheiro francês.

Assim que saiu das águas territoriais da França, destróieres britânicos o acompanharam. Em 18 de julho, perto da costa da Palestina, mas fora das águas territoriais, os britânicos atacaram o navio e embarcaram, enquanto os imigrantes fizeram uma defesa desesperada.

Os britânicos usavam gás lacrimogêneo e pistolas, e a batalha desigual durou mais de duas horas. Um membro da tripulação, judeu americano, e dois passageiros foram mortos. Dezenas foram feridos de bala e outros ferimentos.

Os passageiros foram colocados a bordo de três navios militares, onde ficaram amontoados em condições desumanas por semanas, até que o Reino Unido decidisse o que faria com eles. Alguns passageiros aceitaram uma oferta de asilo da França, mas a maioria se recusou a abrir mão de ir à Terra Prometida e decidiu ficar a bordo.

Mas, para Ernest Bevin, mesmo o inferno da possível prisão Chipre era pouco, em se tratando dos judeus do “Exodus 1947”. Estava determinado a fazer deste “o exemplo” que poria por terra qualquer outra tentativa de imigração “ilegal” para aquela região.

Queria “quebrar” a Aliá Beit para que nenhum judeu novamente tentasse furar o bloqueio britânico na Palestina.

A idéia de Bevin, aprovada pelo Alto Comissário da Palestina, Alan Cunningham, era mandá-lo de volta à Europa, aos portos de origens, pois assim teriam um ganho adicional: desencorajariam os italianos e franceses a prestar qualquer tipo de ajuda à Aliá Beit.

Os três navios-prisão que, em 19 de julho deixaram Haifa, chegaram em Port-de-Bouc, perto de Marselha, no dia 2 de agosto. Mas, o plano britânico de desembarcar os passageiros na França não deu certo: os judeus se recusaram a desembarcar e os franceses não permitiram qualquer tentativa britânica de desembarque forçado em suas águas territoriais. Ofereceram asilo e hospitalidade a todos que quisessem sair dos navios. Salvo um pequeno número de idosos e enfermos, todos os demais permaneceram a bordo.

Como as autoridades francesas não estavam dispostas a participar da evacuação forçada dos judeus, os britânicos os devolveram a Hamburgo, na zona ocupada pelos britânicos na Alemanha, onde estavam alojados em campos de deslocados e, alguns, em antigos campos de concentração e trabalho. O comportamento britânico foi criticado pelo resto do mundo. A agonia, os pesadelos, as esperanças esmagadas eram demais para suportar, mas a enxurrada de apoio de comunidades e organizações em todo o mundo foi uma afirmação de que a agonia dos refugiados do Exodus não foi esquecida nem em vão.

A situação difícil dos passageiros do Exodus, e o cruel tratamento desumano que receberam, despertaram apoio mundial à causa sionista e se tornaram um símbolo de muitas das necessidades dos judeus de se governar em sua própria terra natal, Israel.

A comoção mundial causada fortaleceu o pedido dos judeus pela criação do Estado de Israel -a partilha da Palestina foi aprovada pelas Nações Unidas em novembro de 1947.

Hoje, há um novo memorial estabelecido em Haifa, que representa as esperanças e sonhos de milhões de judeus que nunca puderam viver livres em sua terra natal.

Mendy Tal

Cientista Político e Ativista Comunitário

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