ROSH HASHANÁ E YOM KIPUR 5781 (2020) – POR BERNARDO SORJ
Rosh Hashaná marca a experiência da passagem do tempo, e Yom Kippur é o dia em que procuramos entender como julgamos.
Em Rosh Hashaná refletimos sobre o que fizemos com nossas vidas, lembrando que estamos todos imersos na mesma travessia humana.
Porque ninguém escolheu nascer.
Nem a época, lugar ou família.
Porque viver é fazer, e quem faz erra.
Porque viver é acreditar, e quem acredita se ilude.
Porque viver é amar, e quem ama sofre.
Porque não controlamos o futuro.
Um dia temos saúde e outro dia estamos doentes.
Um dia triunfamos e outro dia fracassamos.
Em Yom Kippur lembramos e que a capacidade de julgamento é o que nos faz humanos, mas também que seu uso indiscriminado e imprudente produz sofrimento, nos outros e em nós.
Reparação e reconciliação somente são possíveis se deixamos de julgar, por isso em Yom Kippur suspendemos nosso julgamento, e refletimos sobre o sofrimento que causamos quando:
· Julgamos em forma apresada, e somos injustos.
· Julgamos sob o efeito da cólera ou do medo, e agimos errado.
· Julgamos em forma preconceituosa, e humilhamos.
· Julgamos em forma dogmática, e desrespeitamos quem pensa diferente.
· Julgamos em função da opinião dos outros, e não do que sentimos, e nos tracionamos.
· Julgamos a forma e não o conteúdo, e somos banais.
· Julgamos quando o que deveríamos ter feito era só compreender.
· Julgamos para impor nosso poder, quando o que deveríamos fazer era compreender.
Porque a passagem do tempo nos permite crescer, e em Yom Kippur lembramos que devemos julgar menos e compreender mais, agindo de acordo com o rabino Hillel, que sintetizou a tradição judaica no princípio de “não faças aos outros o que não desejas que façam a ti”, devemos procurar:
· Sermos mais compreensivos e menos preconceituosos
· Sermos mais curiosos e menos dogmáticos.
· Sermos mais generosos e menos egoístas.
· Valorizar o essencial e não o supérfluo.
· Ouvir e refletir antes de opinar.
· Superar nossos preconceitos que são uma couraça empobrecedora.
· Deixar de nos valorizar pela desvalorização do outro
· Não permitir que os medos e inseguranças nos dominem.
· Proteger nossos interesses sem pisar nos outros.
· Diferenciar entre o essencial e o secundário.
· Manter o senso de humor e de ironia, sem os quais nossa vida e as da que nos rodeiam se torna opressora.
Porque em Rosh Hashaná e em Yom Kippur lembramos que a vida é um esforço constante de superar nossa omnipotência narcisista, desenvolvendo nossa capacidade de conviver, aprender, compreender e discernir, agradecemos:
Shehechyanu, ve´quimanau ve’higuianu lazman haze.
Que vivemos, que existimos, que chegamos a este momento.
Bernardo Sorj, cursou o B.A. e M.A. em História e Sociologia na Universidade de Haifa, Israel, e obteve o título de Ph.D. em Sociologia na Universidade de Manchester, Inglaterra. Foi professor de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais, do Instituto de Relações Internacionais da PUC/RJ e professor titular de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi professor visitante em diversas universidades e centros de pesquisa na Europa, Israel e nos Estados Unidos. Autor de 30 livros publicados em várias lingas e mais de 100 artigos acadêmico. Atualmente é diretor do Centro Edelstein de Pesquisas Sociais e de Plataforma Democrática.