APRENDA A VALORIZAR – RAV EFRAIM BIRBOJM
Aprecie enquanto você tem as coisas. Não espere perdê-las para saber dar valor.
Reuven era filho único e tinha perdido sua mãe ainda pequeno. Seu pai o havia criado sozinho, com muito esforço, mas Reuven já não aguentava mais a convivência. O tempo todo seu pai o deixava irritado, pois era muito rigoroso e sempre estava dando broncas: “Se você for sair da sala, desligue o ventilador”, “A luz está ligada na cozinha, onde não há ninguém. Apague!”, “Suas coisas estão bagunçadas, mantenha seu quarto organizado”. Certo dia, Reuven não aguentou mais. Simplesmente arrumou suas coisas e foi embora, sem dar nenhuma satisfação ao pai. Sentindo-se livre de todo aquele peso, foi viver com alguns amigos. Mal dava atenção ao pai, só ligava quando precisava de mais dinheiro.
Infelizmente, algum tempo depois, Reuven recebeu a triste notícia do falecimento de seu pai. Provavelmente ele havia morrido de desgosto e tristeza. Mas Reuven não sentiu nenhum remorso. Ele sentia um enorme alívio por ter saído daquela cobrança diária. Agora Reuven teria que se sustentar sozinho. Ele mandou seu currículo para várias empresas e foi chamado para uma entrevista em uma delas. Era um excelente cargo e Reuven se animou com a possibilidade de ser contratado, mas, ao mesmo tempo, ele estava receoso.
Reuven chegou ao local da entrevista, mas percebeu que não havia seguranças no portão. Embora o portão estivesse destrancado, a maçaneta estava um pouco solta, o que dificultava para abrir. Reuven então resolveu dar umas pancadas e consertou a maçaneta. Já dentro da empresa, viu que em ambos os lados do caminho havia lindas flores, mas Reuven percebeu que o jardineiro havia esquecido a torneira aberta e a mangueira jogada no meio do caminho, fazendo com que a água transbordasse. Reuven ergueu a mangueira, colocou-a perto de uma das plantas e fechou a torneira. Quando chegou ao escritório, também não havia ninguém na recepção, mas havia um aviso informando que a entrevista seria no primeiro andar. Reuven subiu lentamente as escadas e percebeu que a luz ainda estava acesa, mesmo que o sol brilhava forte. Lembrando-se das advertências do pai, procurou o interruptor e apagou a luz. Já no andar de cima, em um grande salão, ele viu outras pessoas sentadas, esperando sua vez de serem entrevistadas. Eram tantos concorrentes, será que ele teria alguma chance de conseguir o emprego? Percebeu que na entrada havia um tapete de “boas-vindas”, mas viu que ele estava de cabeça para baixo. Imediatamente, como seu pai sempre exigia, ele endireitou o tapete. Ao se sentar, viu que nas fileiras da frente havia muitas pessoas esperando, enquanto as fileiras de trás estavam vazias, e vários ventiladores estavam funcionando sobre aqueles assentos vazios. Ele escutou a voz do seu pai dizendo: “Por que o ventilador está ligado onde não há ninguém?”. Ele então se levantou e desligou os ventiladores.
Finalmente, quando chegou sua vez, Reuven percebeu que a reunião seria diretamente com o chefe e ficou muito tenso. O chefe, em silêncio, pegou os certificados de Reuven e, sem olhar para os papéis, perguntou:
– Quando você pode começar a trabalhar?
Reuven não entendeu. Seria uma brincadeira? Seria parte de um teste para ver como ele reagiria? Percebendo a expressão de confusão no rosto de Reuven, o chefe disse:
– Deixe-me explicar a você. Não fazemos perguntas a ninguém aqui, pois acreditamos que através delas não seremos capazes de avaliar as habilidades de alguém. Nós avaliamos as atitudes das pessoas. Criamos algumas situações e observamos o comportamento dos candidatos por meio de câmeras espalhadas por todos os ambientes. Ninguém que veio aqui hoje fez nada para ajeitar a maçaneta do portão, para fechar a água que estava jorrando na mangueira, para ajeitar o tapete de boas-vindas ou para desligar os ventiladores e as luzes que estavam desperdiçando energia. Você foi o único que fez isso. Por isso, decidi escolher você para o cargo.
Aquelas palavras desabaram na cabeça de Reuven como uma pedrada. Ele sempre ficou irritado com a disciplina que seu pai impunha em casa, chegando ao ponto de desprezá-lo e abandoná-lo por isso, e agora percebeu que, graças ao pai, havia conseguido o emprego. Porém, agora já era tarde demais para agradecer…
Aprecie enquanto você tem as coisas. Não espere perdê-las para saber dar valor.
RAV EFRAIM BIRBOJM – Mestre em Engenharia pela Escola Politécnica da USP, começou seu processo de Teshuvá (retorno ao judaísmo) aos 25 anos, através da Instituição “Binyan Olam”. Saiba mais.
Email: efraimbirbojm@gmail.com