9 MITOS E EQUÍVOCOS DE YOM KIPUR – POR RABI MENACHEM POSNER

Embora Yom Kipur já tenha sido comemorado, nunca é demais aprofundar seus conhecimentos nesta tão importante celebração.


1 – Mito: Kol Nidrê foi inventado por cripto-judeus na Espanha

Os serviços de Yom KIpur começam com Kol Nidrê, expressam nosso arrependimento por quaisquer promessas que possamos (inadvertidamente) fazer no decorrer do ano. Há um mito persistente (e romântico) de que essa formula foi composta pelos anusim, os judeus que foram forçados a se converter ao catolicismo na Espanha durante a Inquisição. Antes de se reunirem para os serviços de Yom KIpur, eles rezavam para que qualquer serviço que prestaram ao cristianismo fosse visto como uma falsidade e não um reflexo da sua verdadeira intenção. Esta é supostamente a razão também pela qual Kol Nidrê é prefaciado com a declaração:

“… pela autoridade do Tribunal Celestial e pela autoridade do tribunal terreno, aqui concedemos permissão para rezar com os transgressores.”

Fato: Kol Nidrê precedeu a Inquisição Espanhola por centenas de anos

Embora seja certamente uma anedota inspiradora, e também seja provável que os anusim pronunciassem essa prece com mais fervor, eles não poderiam tê-la inventado pois Kol Nidrê precede a Inquisição pelo menos em 500 anos. Na verdade, há discussão significativa em Tosafot, composta na França e na Alemanha várias centenas de anos antes das conversões espanholas forçadas, a respeito das ramificações legais dessa fórmula. Na verdade, muitos judeus sefaraditas nem mesmo recitam Kol Nidrê juntos, negando a noção de que o texto se originou na Espanha.

2 – Mito: Todo couro é proibido em Yom Kipur

Alguns aceitam a crença enganosa de que não se pode usar cinto nem roupa de couro em Yom Kipur.

Fato: Somente sapatos de couro estão proibidos

As cinco “aflições” de Yom Kipur incluem não usar “sandálias”, que a tradição define como calçado de couro. Outras roupas de couro, e sapatos de outro material estão perfeitamente OK.

3 – Mito: Todo Unetanê foi composto por um rabino que pediu para ser mutilado

Há uma assustadora narrativa acrescida à valorizada prece de Yom Kipur, Unetanê Tokef, que contém as famosas palavras “… quem por água, e quem por fogo; quem por espada, e quem por fera selvagem; quem por terremoto, e quem por pestilência… mas arrependimento, prece e caridade afastam a severidade do decreto.”

A história comumente narrada, como está realmente registrada nos textos antigos, é que foi composta por Rabi Amnon de Maintz, que disse ao Duque de Hessen para mutilar seu corpo como castigo por ele ter sequer considerado se converter ao Cristianismo.

Fato: Rabi Amnon jamais teria feito uma coisa dessas

Embora possa ser provável que essa história tenha um cerne de verdade, e Rabi Amnon possa bem ter recitado essa prece após ser mortalmente mutilado pelo duque, a versão comumente narrada tem algumas grandes falhas: principalmente que Rabi Amnon jamais teria pedido voluntariamente para seus membros serem cortados, uma violação da Torá em respeito ao corpo humano e proibição de mutilação. Outra questão para discutir é que a prece foi dita por centenas de anos antes de Rabi Amnon viver, fazendo-nos concluir que Rabi Amnon pode muito bem ter infundido significado extra nesse comovente pedaço de liturgia, mas ele não poderia ter sido seu autor.

4 – Mito: Após quebrar o Jejum, você pode comer livremente

Comer após jejuar é sempre mencionado como “quebrar o jejum”. Além de nos dar a palavra “desjejum”, isso também tem levado a uma atitude de tudo ou nada. “Depois de quebrar o jejum comendo aquele biscoito por engano”, o raciocínio pode ser: “É melhor eu tomar uma xícara de café e aquele pãozinho que estou guardando para esta noite.””

Fato: Cada momento em que você jejua é valioso

Mesmo se você cometeu um erro, seu Yom Kipur de maneira alguma é invalidado. A vida é uma escada, e o mais importante é a direção na qual você está subindo. Se você cometeu um erro, confesse a si mesmo e a D’us, expresse seu pesar e decida melhorar. Este processo, chamado teshuvá (“arrependimento” ou “retorno”), é na verdade central para sua experiência em Yom Kipur.

5 – Mito: crianças devem fazer três jejuns antes de Bar/Bat Mitsvá

Há um mito persistente de que as crianças deveriam começar a fazer três jejuns antes de seu bar/bat mitsvá, nem antes e nem depois.

Assim, uma menina de 11 anos cujo aniversário é em 1 de Nissan, por exemplo, deveria jejuar em Yom KIpur, pois este, 10 de Tevet e o Jejum de Esther seriam os três jejuns finais antes de ela se tornar uma adulta aos olhos da lei judaica.

Fato: isso não tem base Haláchica

Crianças não são obrigadas a cumprir mitsvot antes de atingir seu bar ou bat mitsvá. Porém, há alguns que educam os filhos para jejuar por um ano (ou mais) antes, o que depende muito da força (e desejo) da criança. Embora vejamos muitos exemplos, indo dos 9 aos 12 anos, três jejuns antes da idade adulta nunca é dado como um tempo para começar.

6 – Mito: Yom Kipur é um dia triste

Talvez porque partilhe alguns componentes básicos com Tisha B’Av, nosso dia nacional de luto pela destruição de Jerusalém e o exílio do nosso povo, muitos veem Yom Kipur como um dia triste.

Fato: Yom Kipur é um dia alegre

O Talmud nos diz que não houve dias tão alegres como 15 de Av e Yom Kipur. Isso é certo; Yom Kipur é um dos dois dias mais felizes do calendário! Por que tão feliz? Bem, é quando D’us perdoa nossos pecados, um dia em que somos liberados da bagagem que acumulamos no decorrer do ano. E como isso é libertador!

Num nível mais profundo: Este perdão é atingido porque este dia é quando nos elevamos acima da rotina mundana de nossas vidas. Como anjos, nos conectamos com nossas almas interiores, e por extensão, somos um só com o Próprio D’us. Agora vale a pena celebrar!

7 – Mito: A coisa mais importante é estar na sinagoga

Para muitos, o elemento mais importante de Yom KIpur é comparecer aos serviços e ouvir o chazan cantar as preces antigas, a tal ponto que eles podem até dirigir no carro ou transgredir as leis do dia a fim de estar presente.

Fato: as leis de Yom Kipur não são negociáveis

Como o Shabat, em Yom KIpur não podemos fazer nenhuma das 39 melachot, incluindo causar combustão. Por este motivo, dirigir um carro é proibido, e quando há a escolha de dirigir até a sinagoga ou permanecer em casa, a pessoa deveria escolher ficar em casa em vez de dirigir durante este dia sagrado.

8 – Mito: o Shofar encerra o jejum

Após termos jejuado por 25 horas, um dos pontos altos da Neilá (serviço de conclusão) é recitar o Shemá alto e em uníssono, seguido pelo toque do shofar. Há uma crença comum de que o toque do shofar faz o jejum terminar, o que tem levado alguns a erradamente a tocar o shofar e comer antes do cair da noite.

Fato: o jejum termina quando as estrelas surgem

Há alguns que explicam que tocamos shofar para anunciar que a noite seguinte a Yom KIpur é um feriado, e que agora é hora de festejar e celebrar a proximidade que atingimos e o perdão que alcançamos durante este dia grandioso.

Porém, o shofar não faz o jejum terminar, em vez disso, o anoitecer e a Havdalá são o que permitem a uma pessoa comer.

9 – Mito: serviço de Yom Kipur é um típico serviço de prece

Muitas pessoas frequentam a sinagoga apenas em Rosh Hashaná e Yom Kipur, e ficam desapontadas ao descobrir que os serviços são conduzidos numa linguagem que eles não entendem e parece se estender por horas. É natural para eles não quererem voltar. Afinal, por que eles se sujeitariam a essa experiência mais vezes?

Fato: é como ir à escola apenas para o dia de exame

Imagine que você decida ir à escola apenas quando for absolutamente necessário – o dia em que fará uma prova sobre toda a matéria que você estudou durante o ano inteiro. Compreensivelmente, você iria considerar a escola como o local mais infeliz, tortuoso, onde você passa o dia inteiro tentando adivinhar as respostas para perguntas que não entende.

Obviamente, se você tivesse ido o ano inteiro saberia que escola é um local empolgante onde você descobre novas informações e aprecia o prazer de aprender. Você também estaria bem preparado para responder as perguntas do exame de final de ano.

Portanto não seja um estranho. Vá à sinagoga mais e mais vezes, e você vai descobrir o ritmo e a razão por trás das preces. E até os serviços extralongos das grandes Festas não vão parecer tão longos e atordoantes! Quanto mais atualmente onde você pode acompanhar as preces com a opção de abrir um Machzor em hebraico, transliterado e traduzido.

Fonte: https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/4887431/jewish/9-Mitos-e-Equvocos-de-Yom-Kipur.htm#utm_medium=email&utm_source=1616_revista_pt&utm_campaign=pt&utm_content=content


Rabi Menachem Posner – Atua como editor no Chabad.org, o maior site informativo judaico do mundo. Ele tem escrito, pesquisado e editado para Chabad.org desde 2006, quando recebeu seu certificado rabínico da Yeshiva Central Tomchei Temimin Lubavitch. Reside em Chicago, Illinois, com sua família.

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