ROMA – SEUS MOMENTOS INFAMES DE TRAGÉDIA JUDAICA – POR MENDY TAL

Dia 16 de Outubro comemoramos o 78º aniversário do ataque nazista ao Gueto de Roma. Nessa data, em 1943, os nazistas invadiram o gueto e prenderam 1022 pessoas, que foram temporariamente deslocadas para o Collegio Militare.

Depois de pouquíssimos dias, foram enviadas para Auschwitz. Destes prisioneiros, sobreviveram 17 pessoas apenas.

Para quem não sabe, a palavra italiana “ghetto” deriva do dialeto veneziano e indicava as fundições públicas nas quais eram fabricados morteiros e canhões para navios. Era naquela área que residiam os judeus de Veneza. Em Roma, a zona conhecida como “gueto” é aquela que estende-se das margens do rio Tibre, com a Sinagoga, passa pelo Teatro de Marcelo e chega até o Palazzo Cenci.

Hoje, em meio a fontes monumentais, docerias, lojas de tecidos e restaurantes kosher, as lembranças da perseguição aos judeus parecem remotas. No entanto, basta um olhar mais aguçado para evocar as memórias do passado.

Roma foi uma das primeiras cidades onde os judeus foram se instalar desde a destruição dos Templos e, como vieram direto da Terra Santa, os judeus de lá não são considerados nem sefaradim e nem ashkenazim.

Para os turistas que passeiam pelos arredores das ruínas do Portico d’Ottavia – considerada a porta de entrada para o antigo gueto – talvez seja complicado imaginar o horror que caracterizou o lugar séculos atrás.

O gueto foi instituído em 1555 pelo Papa Paulo IV, que estabeleceu as fronteiras da área de segregação, e aberto definitivamente em 1848, graças ao Papa Pio IX. Se fizermos as contas, foram quase três séculos de sofrimentos e humilhações e foi somente o Papa João Paulo II que finalmente declarou que a Igreja católica deveria ter intervido com afinco na defesa dos judeus durante o Holocausto. Quem circula em meio aos modernos barzinhos do bairro precisa imaginar que, antigamente, aquela era uma das áreas mais repugnantes da cidade. O gueto era alvo de frequentes inundações por parte das águas do Tibre, não possuía uma rede de esgoto e para distinguir-se do resto da população seus habitantes eram obrigados a vestir um boné amarelo, no caso dos homens, e um xale da mesma cor, no caso das mulheres. Em menos de sete hectares de terra viviam mais de 4 mil pessoas. Os judeus eram autorizados a sair durante o dia, mas tinham que obedecer um toque de recolher e retornar ao gueto antes que os portões fossem trancados, à noite. Aos domingos, eram forçados a assistir sermões cristãos na igreja de Sant´Angelo in Pescheria.

E nesse histórico nefasto, os nazistas conseguiram se superar em crueldade e acrescentaram um grau ainda mais infame na perseguição e morte dos judeus.


Mendy Tal – Cientista Político e Ativista Comunitário.

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