RECONHECIMENTO FACIAL NÃO É APENAS UMA HABILIDADE HUMANA

Pesquisa da Universidade de Haifa, em Israel, revela que o processo de reconhecimento facial pode ser realizado por alguns animais, inclusive insetos

Um estudo realizado pela Universidade de Haifa, em Israel, apontou que seções primitivas do cérebro, chamadas de subcórtex, também estão envolvidas no reconhecimento facial e em outros processos cognitivos “superiores”. Estes processos foram amplamente considerados como função restrita ao cérebro humano, mas, segundo a pesquisa, as partes subcorticais primitivas do cérebro também estão envolvidas nessa mecânica e assim algumas habilidades cognitivas se aplicam aos mamíferos, répteis, peixes e sapos, por exemplo.

De acordo com o Prof. Shai Gabay, líder do estudo e chefe do Instituto de Processamento de Informação e Tomada de Decisão da Universidade de Haifa, o subcórtex se desenvolveu no início da evolução, há centenas de milhões de anos atrás, e as seções “superiores” do cérebro, chamadas córtex, evoluíram posteriormente. Ou seja, o córtex é a camada externa do cérebro que envolve as estruturas subcorticais primitivas aninhadas no interior e, em sequência de uma escala evolutiva, os mamíferos têm um córtex mais complexo do que os répteis e os peixes.

A conclusão é que a neurociência assumiu que o córtex “superior” é responsável pelas habilidades cognitivas sofisticadas dos humanos, como a capacidade de pensar e não apenas de reagir reflexivamente. O córtex permite que monitoremos nossas ações com bom grau de controle executivo sobre várias funções. E pensava-se que as habilidades “avançadas” incluíam o reconhecimento facial. “Uma razão para considerar a percepção facial como uma habilidade cognitiva avançada é que os processos sociais são considerados uma marca registrada da habilidade humana”, diz Gabay.

“Desde o nascimento até a velhice, as conexões sociais são imperativas para nossa sobrevivência e bem-estar. Apesar da existência de muitas espécies sociais na natureza argumenta-se que a disposição social única dos humanos é central para nossa experiência e consciência, e o que explica o desenvolvimento evolutivo de nossos cérebros e córtex”, completa o estudioso.

Porém, a pesquisa identificou o envolvimento de estruturas subcorticais nessa habilidade avançada . O que indica que uma ovelha, por exemplo, poderia reconhecer rostos? Sim. Tal fato desmistifica a superioridade dos humanos e nossa suposição de que temos habilidades cognitivas únicas. Talvez tenhamos, mas aparentemente reconhecer um cachorro, por exemplo, não é um deles. Até mesmo insetos como abelhas e vespas foram descritos como capazes de reconhecer rostos humanos.

“As abelhas podem ser treinadas para reconhecer rostos humanos, desde que os insetos sejam levados a pensar que os rostos são flores de formas estranhas… Os insetos usam o arranjo de características faciais para reconhecer e distinguir um rosto do outro”, relatou um estudo em 2010.

“O que fazemos em nosso laboratório mostra que mesmo comportamentos complexos e funções cognitivas são guiados pelo material subcortical. Por muito tempo assumiu-se que o reconhecimento facial era uma função exclusiva do nosso córtex nobre, que é, na verdade, maior do que a maioria dos outros animais. Lutar ou fugir é subcortical, mas primeiro você precisa reconhecer que o que está vendo é censurável.”, afirmou o líder da pesquisa.

Segundo Gabay, muitos pesquisadores acreditam que a cognição é o produto do envolvimento cortical. A capacidade de reconhecer rostos foi considerada uma habilidade superior. Esperava-se que a percepção do rosto fosse uma das coisas em que os humanos são melhores. Isso não anula o fato de que podemos ter funções cognitivas únicas que são propriedade do nosso córtex, mas se o reconhecimento facial também envolve o subcórtex, essa não é uma de nossas qualidades únicas.

Gabay e seu time mostraram que as pessoas distinguem melhor rostos diferentes quando são mostrados ao mesmo olho, mas se rostos diferentes são apresentados a olhos diferentes, os sujeitos tiveram dificuldade em ver que eram percepções diferentes. A informação do olho esquerdo, no caso, viaja por neurônios diferentes da informação do olho direito. Esta segregação está nas regiões subcorticais. A informação visual dos diferentes olhos converge para o córtex, onde é criada a percepção unitária.

Por isso, a sensibilidade observada no laboratório de Gabay em relação ao olho de origem é um marcador de acometimento subcortical. Há, também, uma área cortical dedicada aos rostos; pessoas com danos nessa área do córtex não conseguem identificar rostos.

“A questão é onde essa vantagem se desenvolveu durante a evolução”, diz Gabay. “Isso fortalece a afirmação de que o reconhecimento facial é baseado nas áreas primitivas do cérebro, o que significa que muitos organismos que possuem apenas estruturas subcorticais, ou nenhum córtex avançado, também podem reconhecer rostos”. E isso explica a pesquisa que mostra o reconhecimento facial entre abelhas e afins.

Tudo isso também corrobora a tese de que temos a tendência de ver rostos em todos os lugares onde não há nenhum – veículos motorizados, tomadas elétricas. “Afirmamos que são os processos cerebrais inferiores que nos encorajam a ver rostos em um ônibus, Jesus em brinde, o Homem na Lua. Temos um sistema que está constantemente procurando rostos”, diz Gabay. “Existem indústrias inteiras baseadas nisso”, finaliza.

Sobre a Universidade de Haifa:

A Universidade de Haifa é a instituição mais pluralista do ensino superior em Israel. Com cerca de 18 mil alunos de diferentes nacionalidades, compõe seis faculdades: Direito, Ciências, Ciência Educativa, Humanidades, Educação e Bem-estar Social e Saúde. Tal pluralidade se dá através da missão de promover a excelência acadêmica em uma atmosfera de tolerância e multiculturalismo. A Escola Internacional da Universidade de Haifa oferece bolsas de estudo para estudantes internacionais e no nível do corpo docente para a maioria dos programas. Além de ser uma das mais avançadas tecnologicamente em sua área de especialização, a universidade que também possui destaque com grandes pesquisas nas áreas de: ciências marinhas, ciências ambientais, literatura, estudos da idade de ouro, desenvolvimento de convivência e diversidade – multicultural.