B”H ou BS”D no cabeçalho de uma carta, o que isso significa? – Rabi Yehuda Shurpin

Embora não seja uma exigência, há na verdade um antigo costume judaico de escrever B”H ou BS”D, ou para ser mais acurado, seu equivalente em hebraico no início de uma carta

Pergunta:

Por que escrever B”H ou BS”D no cabeçalho de uma carta? Embora não seja uma exigência, há na verdade um antigo costume judaico de escrever B”H ou BS”D, ou para ser mais acurado, seu equivalente em hebraico no início de uma carta. O que isso significa?

Resposta:

B”H é um acrônimo para as palavras hebraicas Baruch Hashem (bendito seja D’us) ou B’ezrat Hashem (com a ajuda de D’us). Outros optam por BS”D, um acrônimo para a frase em aramaico b’syata d’shmaya (com a ajuda do céu). A citação antes da última letra é a maneira hebraica de assinalar que é um acrônimo ou uma palavra não-padrão.

Motivo e Origem do Costume

Esse antigo costume judaico na verdade tem levado a todos os tipos de especulação sobre Cristovão Colombo. Aparentemente, em quase todas as cartas ao seu filho, ele incluía no canto superior esquerdo aquilo que parece ser letras hebraicas na escrita sefaradita daquela época. (Sim, eu também fui cético quanto a essa alegação, que mesmo se for verdadeira, não necessariamente prova qualquer coisa, mas há imagens disponíveis online, portanto fique à vontade para julgar por si mesmo).

A ideia por trás desse costume é que mesmo quando saímos para nossas tarefas mundanas diárias, D’us deveria estar sempre em nossa mente, nossa língua e nossa caneta. Isso combina com o versículo em Salmos “E O coloquei, o Eterno diante de mim constantemente; porque [Ele está] à minha direita. Eu não errarei,”1 e o versículo em Provérbios “Conhece-O em todos os teus caminhos, e Ele dirigirá suas trilhas.”2

O hábito de enfeitar nossa conversa comum com menções de gratidão a D’us foi até mostrada pelo nosso antepassado Yaacov. Segundo o Midrash, quando ele disfarçou-se como seu irmão pecador como um truque para que seu pai, Yitschac, o abençoasse, Yaacov quase estragou o disfarce mencionando D’us repetidamente em sua conversa com seu pai cego.3

Quando isso se transferiu também para a palavra escrita?

Não está claro. Alguns mencionam Rabi Yehuda HaChassid (Rabi Judah o Piedoso, 1150-1217) e sua obra Sefer Chassidim como uma possível fonte para o costume de mencionar D’us antes de escrever uma carta comum.4

Encontramos o uso de várias expressões nas cartas das primeiras gerações. Atualmente, foi reduzido a B”H ou BS”D (e seus equivalentes).

Posso jogar fora?

Alguns são da opinião de que a pessoa deveria ser cuidadosa ao escrever B”H, pois a segunda letra representa o nome de D’us. Isso traria um problemas ao descartar a carta, pois o nome de D’us não pode ser apagado ou tratado de maneira desrespeitosa.5 Por este motivo, muitos preferem BS”D”6

Muitos, porém, decretam que a carta pode ser descartada (embora preferivelmente não de maneira desrespeitosa), pois o H não representa o nome real de D’us mas Hashem, que simplesmente significa “O Nome”.7

O Rebe, Rabi Menachem M, Schneerson, de abençoada memória, tinha o costume de iniciar suas cartas com B”H, como pode ser visto nas milhares de cartas suas publicadas, e ele encorajava outros a começar as cartas reconhecendo D’us de maneira semelhante.8

Dessa maneira, não apenas estamos mais conscientes de D’us em nossa vida diária, mas todos com quem entramos em contato também recebem uma consciência de D’us em sua vida pessoal, levando ao dia em que o mundo inteiro vai reconhecer que “D’us é um e Seu nome é um.

NOTAS

1.

Salmos 16:8

2.

Provérbios 3:6

3.

Veja Midrash Bereshit Rabá 65:19 e Likutei Sichot, vol. 6, pág. 190.

4.

Veha Sefer Chassidim, 884 e comentários. Veja também Rabino Zalman Shimon Dworkin em Kovets Razash, pág. 71.

5.

Rabino Yossef Rosen (O Gaon de Rogatchover), Tzofnat Paneach 196-197 (também encontrado em Piskei Teshuvá 3:293. Veja Shulchan Aruch, Yorê Deiá 276:13

6.

Veja Igrot Moshê, Yorê Deiá 2:138.

7.

Veja Yechave Daat 3:78, Ginzei Hakodesh 7, nota 13.

8.

Veja, por exemplo, Likutei Sichot, vol. 6, pág. 190 e vol. 24, pág. 599.


Rabi Yehuda Shurpin

Famoso erudito e pesquisador, Rabi Yehuda Shurpin atua como editor de conteúdo em Chabad.org, e escreve a popular coluna semanal Pergunte ao Rabino. Rabi Shurpin é o rabino do Chabad Shul em St. Louis Park, Ninn., onde reside com sua esposa, Ester, e seus filhos.