Dia Nacional da Disrupção – Por David S. Moran, direto de Israel (3-3-2023)
Atualmente ocorre um verdadeiro terremoto político em Israel. Já são 8 semanas que centenas de milhares de cidadãos fazem protestos contra a intenção do atual governo em encampar o terceiro poder debaixo de suas asas: o poder Judiciário.
Na quarta-feira (1/3) em todo o país foi declarado o dia Nacional da Disrupção e milhares saíram às ruas e aos eixos principais de trânsito. A ira dos manifestantes é contra a reforma judiciária planejada pelo governo. A oposição requer a paralização dos trabalhos no Knesset e dialogar com o governo para chegar a um bom termo comum. O governo e principalmente o atual Ministro da Justiça, Yariv Levin, vê na sua reforma meta principal. Juntamente com o chairman do Comitê da Justiça e Constituição, do Knesset, deputado Simcha Rotman, eles vão avançando e não param para dialogar. O deputado Rotman, para evitar discussões joga para fora da Comissão quem se opõe às suas ideias. Ele representa o Fórum Kohelet, que se autodenomina Instituto de Pesquisas e Atuação. Sua ideologia é conservadora, de direita e neo liberal. Quem o financia não quer aparecer em público, mas a intenção do Kohelet é fortalecer a democracia israelense e o Lar Nacional Judaico, liberdade do indivíduo e implementação do mercado livre em Israel. Este fórum é considerado radical da direita.
(policiais enfrentando grupo de manifestantes, em Tel Aviv)
Nas manifestações da quarta feira, que aconteceram simultaneamente em todo o país, a polícia usou força – muitos dizem, força excessiva – na qual lançou gás lacrimogêneo, carros pompa que lançaram água com mal cheiro nos manifestantes, forças especiais e também policiais montados em cavalos. Dizem que há décadas não se via tal violência policial contra manifestantes. Sem dúvida, a mão (e o pé) do novo Ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir estava aí. Ele estava na sala do comando policial e instruiu usar força para não obstruir o trânsito. Ele que foi moleque infrator de leis, agora instrui a polícia usar força.
Outro detalhe foi que, justamente neste dia, que já estava nos calendários, a senhora Sara Netanyahu, resolveu viajar de Jerusalém a Tel Aviv para fazer o cabelo. Quando o público reparou que ela estava no cabelereiro em pleno centro de Tel Aviv, foi se manifestar lá. O local estava sitiado por 3 horas. Mais de 100 policiais, inclusive da cavalaria estavam lá para dispersar o público e tirar Sara para encontrar os braços amados do seu esposo. Há os que acham que tudo foi planejado, pois a senhora Netanyahu não tem que sair de Jerusalém para fazer o cabelo, o cabelereiro viria à sua residência. Talvez era para chamar a atenção e dar mais um item no noticiário geral e não comentar a mudança judicial.
É irônico, mas até o Adi Rubinstein do Israel Hayom – considerado jornal a favor do Netanyahu – escreveu (2) que a comparação do Netanyahu entre os manifestantes pacíficos nas ruas de Israel e os judeus que revidaram o assassinato de 2 jovens em Hawara indo lá queimar casas, atesta o estado mental do mesmo. Ele é político e terminará o seu termo, mais cedo ou mais tarde, mas os israelenses
terão que continuar vivendo aqui, conclui Rubinstein. Ele quer dizer, que por certas razões, o governo recém empossado (há 2 meses) está com pressa de fazer reforma/revolução judiciaria, sem levar em conta ninguém, mesmo que os israelenses se odeiem. Isto está errado. Nas dezenas de anos que vivo em Israel, houveram muitas manifestações a favor e contra qualquer coisa, mas não me lembro que pilotos da reserva da Força Aérea, ou reservistas de forças de elite, ou líderes das companhias da alta tecnologia, ou mesmo economistas da primeira classe, se manifestam contra o plano sugerido. Também contra a forma. Até parece que este é o único problema e a única preocupação de Israel.
Há os que acham que o Netanyahu até estaria disposto a dialogar com a oposição. Mesmo porque o líder do partido Hamachané Hamamlachti Beni Gantz está disposto a dialogar com o Likud, se paralisarem os trâmites para umas 2 semanas. Já o líder da oposição, Yair Lapid exige dialogar na condição de que parem os trâmites por 60 dias. Parece que o Netanyahu está nas mãos dos mais extremistas, como o Yariv Levin, do Likud , o Simcha Rotman do Sionismo Religioso e também dos Ben Gvir e Smotrich do Potencia Judaica e do Sionismo Religioso, respectivamente. Eles são os que dão apoio ao Likud e formaram a coalizão. Reforço a esta analise foi do repórter Sefi Ovadia (Canal 13), que trouxe a informação de Netanyahu chamar uma coletiva, também para falar de parar os tramites por 10 dias. Quem não o deixou fazer esta declaração foi Yariv Levin, que ameaçou se demitir. Ele não quer perder nenhum segundo.
Mas, o governo tem pressões também de dentro dos partidos que o compõem. O vice-ministro, no ministério do Primeiro Ministro, deputado Avi Maoz, do Sionismo Religioso, demitiu-se do cargo, pois “não havia intenção de cumprir os acordos”. No dia seguinte, o ministro de Jerusalém e Tradição, do Agudat Israel, também se demitiu da responsabilidade das festas de Lag Baomer, em Meiron, pois” Netanyahu não cumpre com o prometido” . Há 2 anos nesta festa morreram 46 pessoas pisoteadas.
Mesmo com um governo cheio de ministérios desnecessários e com gente no próprio Likud descontente, os participantes da coalizão sabem de que se deixarem de votar com o governo e a coalizão estarão fora do jogo político, que lhes traz muitos benefícios. O fato é que nos 3 censos de opinião pública, aparece o descontentamento com o Likud. No censo do Canal 12 (1.3) o Likud receberia agora 29 cadeiras (queda de 5). O Yesh Atid sobe para 26, o Machane Mamlachti com 14, Shas -11, Sionismo Religioso- 12, Yahadut Hatorá-7, Israel Beiteinu-6, Meretz-4, Lista árabe- 5, Ra’am (árabe)-6. A grande surpresa é que o Partido Trabalhista não passa dos votos mínimos necessários de 3.4% e recebe só 2.8% das intenções de votos e ficaria fora do Knesset.
Quando o Irã está prestes a poder fabricar bomba nuclear, os palestinos terão seus dias de “irritados” na época do Ramadã e que atrás dos bastidores há a luta pelo poder, após a era do Mahmoud Abbas, doente e velho, que não larga as rédeas. A isto juntar as críticas dos europeus e dos Estados Unidos, pelas falas do Ben Gvir e Smotrich, então estamos num verdadeiro terremoto político.
Pra aliviar um pouco merecemos nos fantasiar no Purim e reunir a família para o jantar festivo de Pessah. Boas festas.
Fonte:
Resenha de David S. Moran
DAVID S. MORAN – Mora em Israel, é formado em Relações Internacionais pela Universidade Hebraica de Jerusalém e Major da reserva do exército israelense.