FALA, MEU FILHO – Rabbi Arieh Raichman
Era uma vez um jovem que estava estudando numa yeshiva em Israel. Ele dedicava horas aos estudos e à oração, mas ainda sentia que não estava mudando como pessoa. Nas horas pós-estudo, seu desejo ao prazer material permanecia muito forte. Era como se ele estivesse vivendo duas vidas: um estudante da Yeshiva e um indivíduo secular.
Lutando para conciliar seu dilema interno, ele decidiu confiar no mashpia (conselheiro) Reb Shlomo Chaim Kesselman. Todas as quintas-feiras à noite, a casa do Rabino ficava aberta e ele recebia os alunos para orientá-los. Naquela noite de quinta-feira, o jovem foi à casa e o rabino Kesselman o cumprimentou com um sorriso. Ele perguntou se queria chá e o jovem aceitou.
Uma xícara foi colocada na frente dele, e o Rabino começou a enchê-la enquanto olhava em seus olhos. Os dois ficaram se olhando e a água não parava de cair no copo. Isso até que a água fervente transbordou e molhou as calças do jovem. Mesmo assim, ele permaneceu olhando para o professor. Até que se tornou insuportável e ele alertou o rabino que estava muito quente.
O professor percebeu o que havia acontecido e pediu perdão.
Pouco depois, o menino se abriu sobre suas lutas. O Rabino então perguntou ao estudante: “Por que o copo transbordou?” Ele disse: “Porque já estava cheio”. “Essa é exatamente a resposta ao seu dilema”, disse o Rabino. “Sendo que você ainda tem esses desejos internos, seu aprendizado da Torá não mudará você. Você precisa remover esses desejos e então seu copo ficará vazio, tornando-se um recipiente que poderá ser preenchido com santidade”.
A Torá ensina sobre uma doença que permitia às pessoas saber como estavam se saindo em seu serviço espiritual. Essa doença era a lepra. Não afetava a todos, embora todos nós tenhamos dificuldades em nosso serviço. Somente um “Adão”, ou seja, um judeu muito nobre, seria atingido pela doença. Aparecia em sua pele como um sinal de que internamente ele era quase perfeito. Ele tinha apenas uma falha: sua fala constante sobre qualquer assunto que não fosse de Torá.
Todo mundo gosta de falar, mas se uma conversa não for direcionada a um propósito ou objetivo divino, então poderá levar a ‘Lashon Hara’ – falar mal de outra pessoa. Sendo que sua falha era a fala imprópria, somente uma fala adequada poderia ajudá-lo. O leproso não conseguia se corrigir, pois nem sequer reconhece isso como uma falha. É por isso que o Kohen dava palavras de encorajamento ao leproso e o purificava. Um kohen sempre falaria bem com todas as pessoas.
A lição que podemos aprender é que a fala e nossas ações são exemplos do que se passa dentro de nós. Se estamos lutando com alguma coisa, muito provavelmente o problema não é o ambiente ou as pessoas com quem estamos. O problema somos nós. Que possamos olhar para os outros com bons olhos e tentar melhorar a nós mesmos.
RABBI ARIEH RAICHMAN
Nasceu em Houston, Texas, e estudou em várias Yeshivot da Argentina, Brasil e Estados Unidos. Recebeu sua Smicha- Certificado de Rabino da Rabbinical College of America, e também é formado em Mohel. Desde 2009, juntamente com sua esposa e quatro filhos, é o emissário de Chabad em Manaus, Amazonas.
Beit Chabad Manaus – www.chabadmanaus.com – chabadmanaus@gmail.com