Livro infantil de Sheila Mann explora costumes e culturas do Líbano, Israel e Brasil

Sheila Mann lança seu primeiro livro para as infâncias na Praça Aberta da Flip, em Paraty, e em evento na Megafauna, em São Paulo. “Me chamo Sheila” narra a infância e juventude de uma menina judia, que acredita na união das pessoas por meio de uma refeição multicultural. O texto e ilustração são de Gilles Eduar, a quarta capa, de Carla Pernambuco, e a publicação, da Madá

Sheila Mann nasceu em uma família judia no vibrante cenário de Beirute, no Líbano, e viveu sua adolescência em Israel, uma fase que a moldou profundamente antes de se estabelecer no Brasil em 1973. Artista plástica e apaixonada por culinária, idealizou o projeto Peace On the Table (P.O.T), cuja proposta é criar uma conexão entre as pessoas por meio de algo universal e acolhedor: a comida.

Por meio de eventos gastronômicos e apresentações culturais, o P.O.T promove a integração e o respeito mútuo, levando a mensagem de que a paz pode ser construída a partir de pequenos gestos, como sentar-se à mesa e compartilhar uma refeição. A iniciativa já foi apresentada em importantes instituições, como a Pinacoteca do Estado de São Paulo e a Universidade Hebraica de Jerusalém.

Agora, a artista estende a proposta para uma narrativa direcionada às crianças e suas famílias.

“Me chamo Sheila” conta a história de uma garota adorável, curiosa e amante da gastronomia, que a cada dia descobre novas amizades, sabores e receitas. Qualquer semelhança não é mera coincidência. Ao acessar memórias de infância, Sheila sentiu a necessidade de compartilhar o que viveu com o objetivo de falar sobre uma existência pacífica possível.

“Estas discriminações, antagonismos, que em vez de diminuir, de quando eu era criança, seguem aumentando. Então pensei que seria interessante levar esta ideia da culinária pela paz, começando desde pequeno”, conta ela.

Para isso, convidou Gilles Eduar (foto) para escrever e ilustrar a sua história. No livro, a garota conhece duas meninas, uma cristã e outra muçulmana e, então, sente na pele o preconceito. Ao longo da narrativa, as três se aproximam e estabelecem uma relação que por muitas vezes foi difícil na vida real. Sheila conta que algumas tentativas de reuniões com mulheres já adultas foram frustradas por posicionamentos políticos que não deveriam interferir na formação de amizades.

Foi exatamente num encontro desses que veio o “clique” para idealizar o livro infantil. “Os pais aprendem muito com os filhos. Fiz um evento uma vez em que preparei a comida com as minhas netas e convidei crianças da mesma idade, de várias religiões, e o resultado foi uma alegria compartilhada imensa. Talvez a mudança venha mesmo por meio das crianças”, diz ela. “Ao terminar o livro, espero que o leitor consiga olhar o outro de uma forma mais afetuosa, aceitando suas diferenças, ampliando os horizontes e conhecendo outros costumes”, diz ela. “Se olhar mais as semelhanças do que as diferenças a conversa acontece. Se você for pensar em fronteiras, é uma continuação geográfica, a vegetação é igual, os produtos são iguais, as comidas são as mesmas. Não é uma separação, mas uma continuação”, completa.

Comida, hábitos de cada lugar onde viveu, pessoas que permearam o crescimento de Sheila – a idealizadora e a personagem – e bons diálogos formam a história do livro que, como não podia deixar de ser, termina com quatro receitas para serem colocadas em prática: labneh (coalhada seca), sanduíche de halloumi, pizza de zaatar e pizza de queijo ralado.