INTERNAÇÕES POR FIMOSE EM MENINOS ENTRE 10 E 19 ANOS AUMENTAM EM MAIS DE 80% NOS ÚLTIMOS 10 ANOS

A 8ª edição da campanha #VemProUro, promovida pela Sociedade Brasileira de Urologia, alerta sobre as complicações nessa fase, uma vez que o problema deve ser tratado ainda na infância e não na adolescência

Problema geralmente detectado nos primeiros anos da infância, a fimose é identificada pela dificuldade de expor completamente a glande ao tentar puxar a pele que recobre o pênis. Até os três anos ela pode se resolver sozinha, porém após essa idade é necessário tratamento com pomada ou cirurgia. O ideal é que esse procedimento seja realizado entre os três e nove anos, antes da entrada na puberdade, quando a recuperação é mais tranquila. Se não tratada, a fimose pode causar infecções de repetição e até mesmo câncer de pênis em longo prazo.

Dados do Ministério da Saúde obtidos pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) apontam que em 10 anos (2015 a 2024) foi registrado um aumento de 81,58% no número de internações devido a fimose, parafimose e prepúcio redundante, o que pode indicar que o diagnóstico desse problema está sendo tardio.

Na 8ª edição da campanha #VemProUro, que incentiva a ida do adolescente ao médico, assim como as meninas o fazem, a SBU joga luz sobre o diagnóstico tardio de problemas relacionados à fimose. Nas redes sociais (@portaldaurologia) a campanha se amplia com posts, vídeos e lives que vão esclarecer mitos desse problema e outros temas como vacinação para o HPV, varicocele, torção de testículo, ejaculação precoce, tamanho do pênis etc. “Enquanto os dados nos mostrarem que as meninas adolescentes vão muito mais ao médico que os meninos, vamos continuar realizando o #VemProUro. O cuidado com a saúde tem que se tornar um hábito desde a infância e adolescência. Hoje vemos o menino ir ao médico quando criança e depois só na fase mais madura, após os 40 anos. Não pode haver esse gap”, afirma Dr. Luiz Otavio Torres, presidente da SBU.

Dados do Ministério da Saúde, de 2022, inclusive, mostram que a frequência da menina de 12 a 19 anos ao atendimento médico é quase 2,5 vezes maior que a do menino. E ao se comparar a ida das meninas de 12 a 18 anos ao ginecologista e a dos meninos ao urologista, a discrepância é ainda maior: elas realizam 18 vezes mais atendimentos que eles.

“A recomendação é que o diagnóstico da fimose e a cirurgia, quando necessária, sejam realizados ainda na infância, entre 3 e 9 anos, pois na adolescência o procedimento pode gerar mais repercussões, como recuperação mais demorada, deiscência de pontos e desconforto na ereção espontânea. Na infância, ainda não há ação da testosterona, que dá origem à ereção, a qual pode ser um complicador no pós-operatório”, explica Dr. Daniel Suslik Zylbersztejn (foto), diretor do Departamento de Urologia do Adolescente da SBU e coordenador da campanha #VemProUro.

Fimose, parafimose e prepúcio redundante – o que são.

A fimose pode ser classificada em primária e secundária. A primária, também chamada de fisiológica, é uma condição presente desde o nascimento devido à aderência natural do prepúcio (pele que recobre a cabeça do pênis) à glande. Já a secundária surge após o nascimento, geralmente causada por infecções, inflamações ou traumas no prepúcio que levam ao estreitamento da pele e dificuldade na retração.

A fimose não tratada pode aumentar as chances de infecções – como urinária, balanite (inflamação da glande) e balanopostite (inflamação da glande e do prepúcio) –, parafimose, dor e dificuldade nas relações sexuais e ereções e de contrair ISTs, como HPV, que é fator de risco para o câncer de pênis.

A parafimose é uma urgência urológica que ocorre quando o prepúcio após ser retraído não consegue retornar à posição normal e estrangula o pênis, podendo comprometer o retorno venoso e linfático, levando a edema, dor intensa e, se não tratada, isquemia e necrose da glande. Por isso a urgência no tratamento. Ela pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais prevalente em adultos jovens não circuncidados. Já o prepúcio redundante tem como característica o excesso de pele sobre a cabeça do pênis, mas que não impede a retração completa para expor a glande, como ocorre na fimose. Porém, assim como a fimose, pode provocar infecções caso não haja uma higienização adequada.

Aumento de mais de 80% nas internações no SUS nos últimos 10 anos

Levantamento realizado pela SBU no Sistema de Informações Hospitalares do SUS aponta aumento de 81,58% nos últimos dez anos no número de internações em decorrência de fimose, parafimose e prepúcio redundante na faixa etária de 10 a 19 anos. Em 2015 foram 10.677 internações, enquanto em 2024 pulou para 19.387 internações. De 2015 a 2024 foram registradas no total 130.764 internações.

Na faixa etária de 10 a 14 anos, nesse mesmo período, o aumento de internações foi de 87,7%.

Internações por prepúcio redundante, fimose e parafimose (10 a 14 anos)

Já na faixa etária de 15 a 19 anos, o aumento foi de 70% nesse mesmo período.

Internações por prepúcio redundante, fimose e parafimose (15 a 19 anos)

“No período do Covid-19 observou-se uma redução no número de internações, mas após a resolução da pandemia houve uma recuperação sustentada nos últimos três anos de mais internações referentes a queixas no prepúcio, mostrando que mais adolescentes estão sendo diagnosticados com esse problema. A fimose deve ser diagnosticada e tratada na infância, não postergando para adolescência, pois evitaria complicações inerentes à puberdade e traria uma recuperação mais tranquila”, refere Dr. Roni de Carvalho Fernandes, diretor da Escola Superior de Urologia da SBU.

Tratamento

O tratamento da fimose pode incluir uso de pomadas com corticoides e postectomia (cirurgia de circuncisão) para remover o prepúcio. “A cirurgia da fimose, também conhecida como postectomia, pode ser realizada em ambiente ambulatorial, sob sedação ou até mesmo apenas com anestesia local. O procedimento costuma durar cerca de 60 minutos e após o término da cirurgia o adolescente já está liberado para ir para casa com o uso de analgésicos simples e com repouso por 2-3 dias. A cicatrização completa costuma demorar cerca de 21-30 dias. Essa cirurgia traz benefícios permanentes, melhora a higiene genital, reduzindo os riscos de ISTs e do câncer de pênis na vida adulta”, orienta Dr. Daniel Suslik Zylbersztejn.

Por que é importante a consulta com o especialista

Assim como as meninas passam a ir ao ginecologista na adolescência, é essencial que os meninos também sejam avaliados pelo especialista, que pode ser o urologista, o hebiatra, o clínico ou o médico da família. Na consulta, podem ser tiradas dúvidas sobre ISTs, varicocele, início da vida sexual, prevenção de gravidez indesejada, vacinação contra o HPV, diagnóstico precoce de tumor no testículo etc. “Esses números revelam muito mais do que estatísticas: representam meninos e famílias que poderiam ter evitado complicações com informação adequada e acompanhamento médico no tempo certo. Na SBU, temos o compromisso de enfrentar tabus e combater o desconhecimento, oferecendo orientação clara à população — e é esse o principal propósito das nossas campanhas educativas. A saúde do adolescente precisa estar no centro das prioridades da sociedade, porque cuidar cedo significa prevenir problemas, assegurar uma vida mais saudável e reduzir a necessidade de tratamentos complexos no futuro”, ressalta a Dra. Karin Jaeger Anzolch, diretora de comunicação e coordenadora das campanhas de awareness da SBU.