OS LIVROS E A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL – POR ARNALDO NISKIER
Com o desenvolvimento da inteligência artificial, a produção de livros e o seu respectivo consumo sofreram fundamentais transformações. A junção de seres humanos e máquinas pode fortalecer a noção de coautoria, embora se imagine também que apareçam com destaque os dissidentes que resistem ao avanço da tecnologia.
Dos arquivos digitais caminhando para a inteligência artificial, a cultura sempre abre caminho a novos engenhos. Isso não impede que se registre a presença de roubos da propriedade intelectual. O uso dessas novas ferramentas tem se concentrado na importante tarefa de ser útil a consultas.
No século 15, na cidade alemã de Mainz, de onde provém a minha família, monges copistas trabalhavam na “scriptoria”, espaços dedicados à cópia manual de manuscritos, Gutemberg inaugurava a era da reprodução mecânica do texto. Foi uma revolução. Alguns escritores escreviam a tinta sagrada da Catedral de São Martinho de Mainz, outros preferiam a tinta profana da tipografia. Hoje, duvidamos em que medida a literatura se enriquece com o uso da IA.
Grandes escritores, como Borges e Flaubert, nunca deixaram de recorrer a apoios externos. O autor argentino usava a Enciclopédia Britânica como se fosse um delicioso romance. Quando visitei a Casa dos Bicos, em Lisboa, onde vivia o grande Saramago, percebi que o escritor português tinha, em sua biblioteca, vários dicionários etimológicos, de sinônimos e de antônimos. Pesquisava na internet, como fazem os escritores da sua geração, como nunca fizeram os seus predecessores.
É natural que a IA se torne uma ferramenta integrada ao processo criativo de muitos escritores. São eles, em última instância, que darão a última palavra em seus textos de criação. O texto, sem exageros, pode ser um mosaico de citações, dividindo a criação com a criação, dependendo da inspiração do autor.
Todos os anos são publicados 4 milhões de livros, de autoria humana, com estilos variados. É assim que se desenvolve a literatura, nas regiões mais distintas do planeta.
ARNALDO NISKIER
Arnaldo Niskier – Imortal. Sétimo ocupante da Cadeira nº 18 da Academia Brasileira de Letras. Professor, escritor, filósofo, historiador e pedagogo. Professor aposentado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Da Academia Brasileira de Letras, Comendador do Superior Tribunal do Trabalho. Foi presidente da Academia Brasileira de Letras e secretário estadual de Ciência e Tecnologia e de Educação e Cultura do Rio de Janeiro. Presidente Emérito do CIEE/RJ.








