A MENSAGEM DE LIBERDADE RELIGIOSA – RABI JONATHAN SACKS
Precisamos, no século 21, de um Chanucá global; uma festa de liberdade para todas as fés do mundo. Pois embora minha fé não seja a sua e a sua não seja a minha, se cada um de nós for livre para acender a própria chama, juntos podemos banir parte da escuridão do mundo.
Chanucá (este ano de 2016 comemorada a partir de 24 de dezembro) é a festa na qual os judeus celebram sua vitória na luta pela liberdade religiosa há mais de dois mil anos. Tragicamente aquela luta não é menos importante hoje, não apenas para os judeus, mas para povos de todas as fés.
Hoje a liberdade religiosa, declarada no artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, está em risco em muitas partes do mundo.
A história judaica é bastante simples. Por volta de 165 AEC, Antiochus IV, governador do ramo sírio do império de Alexandre, começou a impor a cultura grega sobre os judeus na terra de Israel. Os fundos eram desviados do Templo para jogos públicos e competições de teatro. Uma estátua de Zeus foi erigida em Jerusalém. Os rituais religiosos judaicos como circuncisão e a observância do Shabat foram banidos. Aqueles que os cumpriam eram perseguidos. Foi uma das grandes crises na história judaica. Havia uma real possibilidade de que o Judaísmo, o primeiro monoteísmo do mundo, fosse eclipsado.
Um grupo de judeus piedosos se ergueu em rebelião. Liderados por um sacerdote, Mattathias de Modi’in, e seu filho Judah, o Macabeu, eles começaram a lutar pela liberdade. Superados em número, eles sofreram pesadas perdas no início, mas dentro de três anos asseguraram uma grande vitória. Jerusalém foi devolvida às mãos dos judeus. O Templo foi rededicado. As celebrações duraram oito dias, Chanucá, que significa “rededicação”, foi estabelecido como uma festa para perpetuar a lembrança daqueles dias.
Quase vinte e dois séculos se passaram desde então, porém hoje a liberdade religiosa, declarada no artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, está em risco em muitas partes do mundo. Os cristãos estão sendo perseguidos em todo o Oriente Médio e partes da Ásia. Em Mosul, a segunda cidade do Iraque, os cristãos têm sido sequestrados, torturados, crucificados e decapitados. A comunidade cristã, uma das mais antigas do mundo, tem sido expulsa. Os Yazidis, membros de uma antiga seita religiosa, têm sido ameaçados de genocídio.
Na Nigéria o Boko Haram, um grupo islâmico, tem raptado crianças cristãs e as vendido como escravos. Em Madagali, homens cristãos foram presos e decapitados, e as mulheres forçadas a se converterem ao Islã e levadas como ‘esposas’ pelos terroristas. O Boko Haram não se limitou a perseguir cristãos. Tem atacado também o estabelecimento muçulmano, e provavelmente esteve por trás do ataque sobre a Grande Mesquita em Kano.
Seria difícil encontrar um precedente na história recente para essa onda de caos e barbárie que está crescendo.
A violência religiosa sectária na República Centro Africana tem levado à destruição de quase todas as suas mesquitas. Em Burma, 140.000 muçulmanos Rohingya e 100.000 cristãos Kachin foram forçados a fugir. Não admira que o relatório de 2015 da Comissão dos Estados Unidos sobre Liberdade Religiosa Internacional fale de “crises humanitárias alimentadas por ondas de terror, intimidação e violência.”
Os países onde a crise é aguda incluem Burma, China, Eritréia, Irã, Coréia do Norte, Arábia Saudita, Sudão, Turcomenistão, Nigéria, República Centro-Africana, Egito, Iraque, Paquistão, Tajiquistão e Vietnã. Somente na Síria, onde estão ocorrendo alguns dos piores crimes contra a humanidade, 6,5 milhões de pessoas estão internamente deslocadas enquanto 3,3 milhões se tornaram refugiados em outras partes.
A violência não está confinada a esses locais. Como ficou claro no recente ataque terrorista em Paris no qual 130 pessoas foram assassinadas, a globalização significa que o conflito em qualquer lugar pode ser exportado para toda parte. Seria difícil encontrar um precedente na história recente para essa onda de caos e barbárie que está crescendo. O final da Guerra Fria acabou se tornando não o início de uma era de paz mas sim uma era de proliferação tribal, de embates étnicos e religiosos. Região após região tem sido reduzida ao que Thomas Hobbes chamou de “a guerra de todo homem contra todo homem”, na qual a vida se torna “solitária, pobre, difícil, brutal e curta.”
Existe um caminho?
Há mais de meio século, o filósofo de Oxford, John Plamenatz, declarou que a liberdade religiosa nasceu na Europa no décimo sétimo século após uma série devastadora de guerras religiosas. Tudo o que foi preciso foi uma só mudança, da crença de que “Fé é a coisa mais importante; portanto todos deveriam honrar a única fé verdadeira”, para a crença de que “Fé é a coisa mais importante; portanto cada um deveria ser livre para honrar sua própria fé.”
Chanucá nos lembra de que as pessoas irão sempre lutar pela liberdade religiosa, e a tentativa de privá-las disso sempre terminará em fracasso.
Isso significava que pessoas de todas as fés estavam garantidas de que qualquer que fosse a religião dominante, ele ou ela deveriam ser livres para obedecer ao próprio chamado de consciência. A surpreendente conclusão de Plamenatz foi que “Liberdade de consciência nasceu, não da indiferença, não do ceticismo, não da mera mente aberta, mas da fé.” O próprio fato de que minha religião é importante para mim permite-me entender que a sua religião, um pouco diferente, é não menos importante para você.
Foi preciso muito derramamento de sangue antes que as pessoas estivessem preparadas para reconhecer essa verdade simples, e é por isso que jamais devemos esquecer as lições do passado se quisermos evitar repetir os erros.
Chanucá nos lembra de que as pessoas irão sempre lutar pela liberdade religiosa, e a tentativa de privá-las disso sempre terminará em fracasso.
O símbolo de Chanucá é a menorá que acendemos durante oito dias em memória do candelabro do Templo, purificado e rededicado pelos Macabeus há muitos séculos. A fé é como uma chama. Se bem cuidada, fornece luz e calor, mas se deixada sem cuidado, pode queimar e destruir.
Precisamos, no século 21, de um Chanucá global; uma festa de liberdade para todas as fés do mundo. Pois embora minha fé não seja a sua e a sua não seja a minha, se cada um de nós for livre para acender a própria chama, juntos podemos banir parte da escuridão do mundo.
JONATHAN HENRY SACKS, Barão Sacks, Kt (nascido em 08 março de 1948), título que lhe foi concedido pela Rainha da Inglaterra, é um rabino e estudioso do judaísmo. Ele foi o Rabino-Chefe das Congregações Hebraicas Unidas da Commonwealth, Londres. Seu nome hebraico é Yaakov Zvi. É fundador e diretor do Meaningful Life Center (Centro para uma Vida Significativa).
Fonte: www.pt.chabad.org
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