RABINO JONATHAN SACKS. REFUÁ SHELEMÁ – POR MENDY TAL

No triste momento em que aprendemos sobre o grande desafio que o Rabino Jonathan Sacks enfrenta na sua luta contra o câncer, vale lembrar quem é esse judeu amado por uns e por outros igualmente. Nossa bússola moral.

Dentro do espectro do judaísmo, temos visões que se contrapõem na interpretação da Torá e das práticas religiosas.

Ultra ortodoxos, ortodoxos modernos, conservadores, reformistas e reconstrutivistas parecem divergir quanto à interpretação de nossos textos canônicos, como também na obediência de certas práticas que podem parecer obsoletas nesta era, neste tempo.

Entretanto, existe um rabino que parece representar todas estas vertentes do judaísmo e além.

Lord Rabbi Jonathan Sacks é esta pessoa.

Nascido em Lambeth, Londres, em 8 de março de 1948, Sacks iniciou sua educação formal na Escola Primária de Santa Maria e no Colégio de Cristo, Finchley. Concluiu o ensino superior no Gonville & Caius College, Cambridge, onde obteve um diploma de Mestrado em Filosofia.

Enquanto estudante em Cambridge, Sacks viajou a Nova York para se encontrar com o rabino Menachem M. Schneerson para discutir uma variedade de questões relacionadas à religião, fé e filosofia. Schneerson instou Sacks a buscar a ordenação rabínica e fazer ´parte do rabinato. Sacks recebeu sua ordenação rabínica do Jew’s ‘College’, e do Etz Chaim Yeshiva de Londres.

Ao ser nomeado rabino-chefe em 1991, Sacks pediu uma “década de renovação” dos judeus britânicos, que ele temia estarem perdendo o senso de “identidade judaica, de família judaica, acima de tudo e seu compromisso com a Torá. …” Em 2001, ele iniciou a segunda década como rabino-chefe com um apelo a um compromisso renovado com a ética da responsabilidade, um tema que ele reprisou em 2005.

Em 2005, em comemoração ao aniversário da rainha, o famoso rabino recebeu o título de Lorde por “serviços à comunidade e às relações inter-religiosas”.

Conquistou um assento na Câmara dos Lordes britânica em 2009, sendo considerado como par vitalício.

Em 2009, Sacks fez um discurso afirmando que os europeus escolheram o consumismo em vez do auto sacrifício como pais e filhos e que “o maior ataque à religião hoje vem dos neodarwinistas”. Ele argumentou que a Europa está em declínio populacional “porque os não-crentes não têm valores compartilhados de família e comunidade

O rabino Lord Sacks é uma voz judaica chave do universalismo e advoga a tolerância entre religiões e culturas.

Ele rejeita a “política da raiva” provocada pela maneira como “agimos como se os seres humanos pudessem funcionar sem moral, corporações internacionais sem responsabilidade social e sistemas econômicos, sem levar em conta o efeito que causam sobre as pessoas deixadas na maré pela mudança”.

Líder religioso internacional, filósofo, autor premiado e voz moral respeitada, o rabino Lord Jonathan Sacks recebeu o Prêmio Templeton de 2016 em reconhecimento às suas “contribuições excepcionais para afirmar a dimensão espiritual da vida”. Descrito pelo príncipe de Gales como “uma luz para esta nação” e pelo ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair como “um gigante intelectual”, o Rabino Sacks é um colaborador frequente e procurado no rádio, na televisão e na imprensa na Grã-Bretanha e em todo o mundo.

Ao abrir mão de sua posição como Rabino Chefe em 2013, Sacks intensificou sua carreira de orador pelo mundo afora e tornou-se também Professor ilustre de pensamento judaico na Universidade de Nova York e Professor de pensamento judeu na Yeshiva University. Ele também foi nomeado Professor de Direito, Ética e Bíblia no King’s College de Londres.

Muitos são os ensinamentos do Rabbi. Ele nos ensina que a liberdade requer um trabalho duro. É o trabalho da memória, de contar a história e entender a lei. Para ele, é disso que se trata a educação na Torá. E é por isso que uma sociedade livre significa que temos uma necessidade constante de trabalhar por ela, uma necessidade constante de protegê-la, e a responsabilidade é toda nossa. Não é algo que você delega aos governos, porque no segundo em que delega a liberdade aos governos, você a perde. Porque eles, no final, tendem a invadir cada vez mais. E a liberdade invariável se torna cada vez menos.

Sacks também aborda o antissemitismo. Antissemitismo significa negar o direito dos judeus de existir como judeus com os mesmos direitos que todos os outros. A forma que isso assume hoje é o anti-sionismo. É claro que há uma diferença entre sionismo e judaísmo, e entre judeus e israelenses, mas essa diferença não existe para os novos antissemitas. Foram judeus e não israelenses que foram assassinados em ataques terroristas em Toulouse, Paris, Bruxelas e Copenhague. O anti-sionismo é o antissemitismo do mundo atual. O Rabino também explicita a conexão entre judeus e Israel:

O antissemitismo é um vírus que sofre mutação, de modo que os novos antissemitas podem negar que são antissemitas, porque seu ódio é diferente do antigo. Na Idade Média, os judeus eram odiados por sua religião. No século XIX e início do século XX, eles foram odiados por sua raça. Hoje eles são odiados por seu estado-nação, Israel.

Qual é então a conexão entre judeus como povo, judaísmo como religião e Israel como estado? A conexão entre o povo judeu e Israel remonta muito antes do nascimento do cristianismo ou do islamismo. Os judeus criaram uma sociedade lá nos dias de Josué, um reino nos dias de Saul, e uma nação com Jerusalém como capital nos dias do rei Davi: tudo isso há mais de 3.000 anos atrás.

Sacks diz que na diversidade, a diferença, o argumento, as discussões de estilo e substância são sinais não de divisão doentia, mas de saúde. O judaísmo da Torá, Emunah e Halakhah continuam fazendo o que faz há tanto tempo: para derrotar a lei da entropia que afirma que todos os sistemas perdem energia ao longo do tempo. Isto não é judaísmo. Onde você encontra argumentos, lá encontrará paixão.

Ele também vê, como uma idéia-chave da fé em nossos dias, que a unidade no céu cria diversidade na terra.

Por tudo isso, nossa admiração pelo Lorde Jonathan Sacks aumenta cada vez mais.

Como bem diz nosso rabino:

“Deveríamos desafiar o relativismo que nos diz que não há certo ou errado, quando todo instinto de nossa mente sabe que não é assim, e é uma mera desculpa para nos permitirmos o que acreditamos que podemos nos safar. Um mundo sem valores morais rapidamente se torna um mundo sem valor”.

Mendy Tal

Cientista Político e Ativista Comunitário

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