Governo de Israel prestes a cair – Por David S. Moran, direto de Israel

O estado de Israel vive um momento muito crítico. De um lado, os problemas de sempre com os palestinos, da Autoridade Palestina e da organização terrorista Hamas, com o Líbano, subjugado a Hizballah, o Irã e os problemas internos.

Do outro lado, o governo não consegue passar leis vitais ao Estado, por falta de apoio da oposição, mesmo que sejam também do seu interesse. O último caso foi com a lei de “Extensão da Validade dos Regulamentos de Emergência na Judeia e Samária”. Esta lei existe desde 1967 e é renovada a cada 5 anos para regularizar juridicamente as áreas ocupadas por Israel, desde a Guerra dos Seis Dias.

Ela foi apresentada ao Parlamento israelense (Knesset), na última 2ª-feira (6), pelo Ministro da Justiça, Gideon Sa’ar, como de praxe e surpresa, surpresa. O partido da direita, Likud, que talvez mais interesse tem em passar esta lei (como acontece há 55 anos), resolveu votar contra os seus princípios políticos. Como disse o seu líder, o ex-Primeiro Ministro, Benjamin Netanyahu”, todos os meios são válidos para derrubar este governo”.

Como chegamos a esta situação absurda? O atual governo israelense do Bennett e Lapid completou esta semana 1 ano, mesmo sendo frágil (politicamente) e prestes a cair a qualquer momento. Depois de 4 eleições, em 2 anos e que o Netanyahu com os ultra ortodoxos, não conseguiu formar novo governo, os partidos que se opõe ao Netanyahu (pessoalmente), conseguiram formar um governo, com maioria bem apertada de 61 deputados (dos 120 no Knesset). Este governo reúne partidos da direita, centro, esquerda e até partido árabe-israelense. (Ra`am-Lista Árabe Unificada).

(charge de Amos Biderman, Haaretz líderes dos 8 partidos que compõem o governo).

Há 1 ano que o Likud e seu líder deputado Benjamin Netanyahu não se conformam na perda do poder e fazem de tudo para destituir o atual governo da direção do país. Sendo carismático, Netanyahu parece o Gulliver entre os demais deputados-anões-que o circundam. Ele lhes distribui folhas de mensagens contra ” o mal governo” e eles uníssonos as dispersam nos meios de comunicação.

Mesmo, quando infelizmente um ou outro deputado se exalta e vai xingando com palavras de baixo calão os adversários, o líder do partido não os modera, deixa passar. O Likud está totalmente subjugado ao Netanyahu, que está na justiça enfrentando 3 acusações, de fraude, suborno e favorecimento de empresa. Os outros partidos com quem o Likud poderia se aliar para formar governo, dizem em voz alta de que não boicotam o Likud, eles não estão dispostos a formar governo com Netanyahu que está enfrentando acusações na justiça.

As tímidas tentativas de enfrentar o Netanyahu no Likud, foram imediatamente sufocadas. O seu ex Ministro da Educação e do Interior, Gideon Sa’ar, deixou o Likud para fundar Hatikvá Hachadasha (Nova Esperança), com outros dissidentes como o Zeev Elkin, Beni Begin e Yoaz Hendel. O ex líder do Knesset, Yuli Edelstein, o ex Ministro dos Transportes Israel Katz e o ex prefeito de Jerusalém, Nir Barkat, tentaram e logo entraram em formação cabisbaixo. O ex Ministro da Segurança Interna, dep. Gilead Erdan, optou por exilar-se em Nova York, nomeado Embaixador na ONU.

Mas, aí não param as peripécias da oposição – do Likud. Netanyahu tenta através de emissários atrair deputados de partidos da coalizão para votarem com a oposição sob várias promessas. E não só com promessas, na frente das casas de “deputados com fraqueza” promovem manifestações barulhentas, durante meses. O primeiro a atravessar a linha foi o recruta político Amichai Shikli, do Yemina, trazido por Bennett, que logo falou que não votaria com a coalizão. Depois de meses foi desfiliado do partido. Em seguida, foi a deputada recruta Idit Silman, também do Yemina. Ela foi líder do governo no Parlamento e da Comissão da Saúde. Após cerca de 8 meses de gritarias e ameaças, foi convencida pelo seu esposo, Shmulik, de não votar com a coalizão. Seus colegas de partido, Amir Kara, Nir Orbach e até a “leal” Ministra do Interior, Ayelet Shaked estão balançando, pensando que terão mais chance no Likud, mas ainda (até o momento em que escrevo) não deram o passo.

A votação pela Lei da Judeia e Samária, interessa muito ao Likud, que tem boa porcentagem de eleitores, entre os cerca de 500 mil habitantes nestas regiões. Apesar disso, o Likud votou contra, assim se a lei não for aprovada até 30 de junho, os residentes na Judeia e Samária não poderão votar, nem serem julgados e a Policia israelense não terá jurisdição nesta área. Os habitantes judeus serão desprovidos do Bituach Leumi (INSS local) e não terão direito a Kupat Holim (Serviços médicos). Presos palestinos serão soltos de prisões israelenses. Parece que a oposição santificou mais a derrubada do governo, do que a vida.

Mesmo que prefeitos de cidades na Judeia e Samaria, inclusive do Likud exortaram o partido em colocar divergência de lado e votar a favor da prorrogação da lei, foram rejeitados.

A votação da lei foi desaprovada. 58 deputados votaram contra e só 52 da coalizão a favor. A deputada Silman se ausentou-propositadamente- do recinto e 2 deputados árabe-israelenses, Jida Rinawi Zouabi (Meretz) e Mazen Gnaim (Raam) votaram contra. Este prefere concorrer à prefeitura de Sakhnin.

Paradoxalmente, o Likud e partidos ultra ortodoxos, seus aliados agem contra sua própria ideologia e contra o Estado. Sabe-se que 100 dos 120 deputados do Parlamento israelense, são favoráveis a Lei Judeia e Samaria, mas votam contra a proposta trazida pelo atual governo, só para satisfazer uma pessoa, o deputado Benjamin Netanyahu, que faz de tudo para voltar ao “trono” e tentar salvar a pele da justiça. Ele até ‘casheirizou’ o deputado Itamar Bem Gvir, cujo mentor político Meir Kahane, foi boicotado pela liderança do Likud.

O censo de opinião pública mostra que se o governo cair e em poucos meses haveria novas eleições, o impasse continuaria, apesar de que o Likud se fortaleceria.

Logo após a votação no Knesset o Instituto Kantar fez censo de opinião pública para ver como o eleitor votaria se houvessem novas eleições. O Likud, obteria 35 deputados, Yesh Atid-20, Sionismo Religioso-10, Shas e Kachol Lavan- 8 cada, Judaísmo da Torá e Avodá-7 cada um, Lista árabe Associada e Yemina- 6 cada, Israel Beiteinu- 5 e Meretz e Lista árabe Unificada- 4 cada um. O partido Nova Esperança, não passaria o mínimo necessário. Nenhum partido obteria bloco de mais de 60 deputados e o impasse persistiria.

Sem dúvida não é um quadro que o atual governo esperaria. Está na corda bamba, mas nada ainda está definido. Se forem declaradas novas eleições, muito poderia mudar, entre junções e cisões e ou até mesmo novas personalidades entrarem no pântano político. Um que está sendo cogitado é o ex Comandante do Estado Maior, Tenente General (Res.) Gadi Eisenkot, muito popular e querido.

O beco sem saída em que o país se encontra atualmente, não pode continuar.


DAVID S. MORAN

Mora em Israel, é formado em Relações Internacionais pela Universidade Hebraica de Jerusalém e Major da reserva do exército israelense.

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