A Abertura da Exposição “Judeus do Egito – 70 Anos de Exilio”

A mostra traçou a trajetória de uma comunidade vibrante com fortes raízes no país cujos rumos mudaram, radicalmente, a partir do golpe de estado dado pelo capitão Gamal Abdel Nasser ao lado do general Muhammad Naguib, em 1952, levando à incerteza gradual em relação ao futuro dos judeus residentes na região há várias gerações.

Obra “Êxodo”, da artista Camille Fox, gentilmente cedida para a identidade visual da mostra, retrata a saída dos judeus do Egito

A vernissage da exposição realizada no dia 11 de junho último na Galeria de Arte A Hebraica de São Paulo foi prestigiada pela comunidade paulistana e suas lideranças interessadas em conhecer um pouco mais sobre a vida dos judeus egípcios e a história da sua imigração a partir da década de 1950. A mostra, que poderá ser vista até o dia 17 de julho, traçou a trajetória de uma comunidade vibrante com fortes raízes no país cujos rumos mudaram, radicalmente, a partir do golpe de estado dado pelo capitão Gamal Abdel Nasser ao lado do general Muhammad Naguib, em 1952, levando à incerteza gradual em relação ao futuro dos judeus residentes na região há várias gerações.

Através de fotos, documentos, objetos e depoimentos gravados será possível conhecer não apenas a vida dos judeus no país, mas, também, a epopeia da imigração de inúmeras famílias que trocaram o Egito pelo Brasil e por outros destinos a partir da década de 1950, escrevendo um capítulo importante da comunidade judaica local e pelo mundo afora. Um dos destaques da mostra é a Torá trazida para o Brasil pela família Douek quando de sua saída do Egito em 1961 e gentilmente cedida para a mostra por Abramo Douek.

A noite de abertura incluiu uma apresentação no Teatro Anne Frank do monólogo “Bagagem”, de Márcio Ballas, no qual o ator conta como a vivência dos pais, um casal judeu que veio para o Brasil nos anos 50, se reflete em sua vida até hoje. Interagindo com o público de quase 260 pessoas, Ballas, autor do texto e excelente em sua performance, viaja pelas memórias afetivas de sua família e conta como a vivência dos pais se reflete em sua vida até. Memórias presentes nas lembranças de muitos que o assistiram naquela noite.

Dividida em blocos, a exposição traz flashes de como viviam as comunidades judaicas egípcias.

Além do espetáculo da abertura, foram realizados paralelamente à exposição uma série de eventos, entre os quais, no dia 23 de junho, uma sessão de cinema no Teatro Anne Frank com a exibição de três documentários – o israelense “Egypt, Mon Amour Jews of Egypt, contribution to the Nile’s land”, com a duração de 22 minutos; “Egito, uma História de Amor”, de Eduardo El Kobbi, de 21 minutos”, e “Bebba”, de Denis Salama, da Holanda. Após os documentários foi realizada uma mesa-redonda com Sami Douek, Eduardo Cohen, Renato Rachmani e Debora Cuperschimdt.

No dia 3 de julho, no Hebraica Meio-Dia, teve lugar a palestra com a britânica Lyn Julius, autora do livro Desenraizados, vinda de Londres especialmente para este evento. No dia seguinte, com apoio da B’nai B’rith, proferiu palestra no Templo Brasileiro Israelita Ohel Yaacov. Seu livro representa a primeira tentativa de enfocar o êxodo e suas causas e é o resultado de anos de pesquisa cumulativa no blog Harif, Point of No Return.

Na véspera do encerramento da exposição, dia 16 de julho, sábado, às 12h, será a vez do Diálogo com o Curador – Olívio Guedes, na própria Galeria “A Hebraica.

Com a palavra, os coordenadores da mostra:

Davy Levy

“A exposição e os eventos são resultado de um trabalho coletivo que foi bem gratificante. Cerca de 850 mil judeus foram expulsos, tiveram seus bens confiscados tendo que recomeçar as suas vidas em outros países. Cerca de 10 mil vieram ao Brasil e aqui encontraram condições para reconstruírem as suas vidas e se integrarem à sociedade.”

Sami Douek

“Somos judeus do Egito do nosso passado, contados 70 anos do Exílio. O projeto judeusdoegito.org recém-criado foi editado em website e publicado em redes sociais contando a nossa história cultural e social, que será renovada por nossos filhos, netos e amigos, o que me traz felicidades e realizações. Em 2022, no Brasil e no mundo, os judeus do Egito se multiplicam e se reconhecem em caráter e similaridades para sempre.”

Simona Misan

“Foi graças a criação do grupo Juif d’Égypte, há sete anos, que uma ampla rede de pessoas e lembranças pode estar em rede trocando suas memórias sobre o exílio em massa que ocorreu na década de 50 em especial.

Foi com base nessa rede de pessoas que rapidamente foi possível reunir documentos e fotografias preciosos para o entendimento de como viviam as comunidades judaicas no Cairo e Alexandria, na sua maioria, e pensar numa exposição que trouxesse ao público tantas informações com alegria, mas também com o amargor da partida obrigatória. Por fim, pudemos também relembrar e comemorar a bem-aventurança de chegar a um país que foi tão acolhedor.”

Nessim Hamaoui

“O importante desta Exposição/Filmes/Palestras é que a comunidade vai ficar sabendo mais sobre uma importante parte da história dos judeus do Egito. Além disso, formou-se um grupo que idealizou e realizou este evento e que vai continuar atuando para manter o nosso legado.”

Desirée Suslick

“Costumamos dizer que um povo sem memória é um povo sem história. Esta exposição está contando uma história, a nossa história, de acordo com as nossas lembranças, com o que muitos vivenciaram e tantos outros ouviram de seus pais e seus avôs. Com tristezas, mas também com alegrias, nostalgia, saudade…Esta exposição trouxe à tona conexões antigas, criou novas e ampliou um caminho sem volta que começou há sete anos com a formação do grupo Juif d’Égypte…quando começamos a contar a nossa história.”

Para a equipe à frente da exposição, é importante ressaltar o apoio da Hebraica, que abriu espaço para a realização da mostra e demais eventos, e dos patrocinadores que acreditaram no projeto, na sua importância e nele investiram para que este se concretizasse. Sem isso, nada teria acontecido.

A exposição é resultado de um trabalho de pesquisa realizado há anos pelo grupo Juifs d’Égypte (Judeus do Egito), criado pelos imigrantes e seus descendentes nas redes sociais, tais como Facebook e WhatsApp. Desde a sua formação já foram realizados alguns eventos, almoços de confraternização e exibição de um filme documentário sobre o mesmo tema realizado por um cineasta egípcio.

Um novo capítulo surgiu há um ano, quando o grupo deu início a um projeto de entrevistas e depoimentos com judeus do Egito não apenas no Brasil, mas também nos Estados Unidos, Suíça e Austrália, entre outros países, como forma de preservar para as novas gerações este legado com um grande acervo em áudio e vídeo. O material editado e produzido está disponível no site judeusdoegito.org. Como resultado desta iniciativa, o grupo Juifs d’Égypte no Facebook e no site dedicado ao tema tem alcançado grande visibilidade.

Confira abaixo alguns flagrantes colhidos naquela noite plena de lembranças e emoções.

Os organizadores do evento: Ernesto Matalon, Izy Rahmani, Eduardo Cohen, Eduardo El Kobbi, Monique Bibas, Simona Misan e Davy Levy

Leonie Douek, Marcelo e Jerusa Douek, Berta e Abramo Douek. No centro, a Torá trazida do Egito pela família Douek do Egito em 1961

Luiza Rossi, Ariel, Eduardo e Mimi El Kobbi, Márcio Ballas, Cristina e Daniel El Kobbi e Nayara Navalon

Flávia Matalon, Debora Matalon, Monique Matalon, Maurício Matalon, Muriel Matalon, Beth Skinazi e Ernesto Matalon

O cônsul geral de Israel em São Paulo, Rafael Erdreich, discusa no Teatro Anne Frank de A Hebraica

Sérgio Simon, Davy Levy, Rabino David Weitman e Abramo Douek.

Sula e Isaac Guerchon, Charles e Miriam Tawil

Simona Misan e Glorinha Cohen

Albert Souss e Rosana Mastrorosa

Rabino Shalom Gourarie e Davy Levy posam ao lado da Torá da família Douek

Eduardo El Kobbi e sua mãe Mimi se divertem com Márcio Ballas

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