O pai da bomba atômica e seus efeitos – Por Jayme Vita Roso

(Imagem: Divulgação/Universal Pictures)

I – Introdução

Moveu-me escrever algumas observações sobre o grande lançamento do filme sobre Oppenheimer de cuja vida e atuação tenho lembranças, não só dele, mas dos que lhe antecederam ou foram contemporâneos ou se manifestaram como cientistas na trajetória da construção e utilização da bomba atômica, “experimentalmente” como testes.

Que eu saiba, Oppenheimer quase que implorou ao então presidente Truman dos Estados Unidos, ao conhecer o destino daquilo que havia colaborado, que não fosse utilizado.

Eu aqui encerro. Todos os envolvidos – Esintein, Goelde, Feynman e Oppenheimer – nasceram judeus. E recordo Samuel Belkin, autor da clássica obra A Filosofia do Talmud – “O caráter sagrado da vida humana na Teocracia Democrática Judaica” (Exodus e Seler, 2003, p. 265): amor ao homem: A Grande Regra da Torá – o dever de amar ao próximo está nitidamente estabelecido no Levítico 19:18: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Nossos Sábios escolheram usar a negativa ao invés da afirmativa em sua explicação do dever de amar o seu semelhante. Assim, no clássico exemplo em que um estrangeiro pediu a Hilel que lhe ensinasse toda a Torá enquanto estivesse apoiado em um pé só, Hilel ensinou: “Tudo o que for odioso, não faças ao teu próximo”. Isto implica que tudo o que a Torá exige do homem para cumprir a obrigação de amar ao próximo, é que ele não faça nada de prejudicial aos outros”.

Então Oppenheimer carregou até o seu último suspiro o que lhe foi apodado de “Pai da Bomba Atômica”.

II

a. Albert Einstein (1879-1955)[1]. Físico matemático, nascido em Ulm, Alemanha. Educou-se em Munique e Aarau, depois foi estudar na Politécnica de Zurique. Assumindo nacionalidade suíça em 1901, foi apontado examinador na Swiss Patent Office (1902-9), onde começou a publicar papers em física teórica. Tornou-se mundialmente famoso, em especial, por sua teoria da relatividade. Foi professor na Universidade de Zurique (1909), e Praga (1911), na Politécnica de Zurique (1912), até se tornar diretor do Kaiser Wilhelm Physical Institute, em Berlim (1914-33). Foi agraciado com o prêmio Nobel de Física em 1921. Após a ascensão de Hitler ao poder, deixou a Alemanha, lecionou em Oxford e Cambridge, e trabalhou no Instituto de Estudos Avançados, em Princeton. Em 1940, tornou-se cidadão americano. Passou os últimos anos de sua vida buscando meios para tentar unificar uma mescla entre teoria quântica e sua teoria geral da relatividade. Após a guerra, Einstein pediu por controle internacional das armas atômicas.

b. Kurt Gödel (1906-78) lógico e matemático, nascido em Brno, República Tcheca (antiga Brünn, Moravia). Estudou em Viena, depois emigrou para os Estados Unidos em 1940 e se juntou ao Instituto de Estudos Avançados, em Princeton. Tornou-se cidadão americano em 1948. Aprofundou e estimulou estudos importantes em lógica matemática e propôs uma das provas mais importantes na matemática moderna: A prova de Gödel, publicada em 1931 com referência ao Principia Mathemetica de Russel, mostrando que qualquer sistema lógico formal adequado para a teoria dos números deve conter proposição não demonstrável nesse sistema.

c. Richard Feynman (1918-88) físico, nascido em Far Rockway, Nova Iorque, EUA. Trabalhou na bomba atômica norte-americana na Segunda Guerra Mundial, depois tornou-se professor de física teórica na Universidade de Cornell (1945). Ganhou prêmio Nobel de Física em 1965 por seu trabalho em eletrodinâmica quântica, e também é conhecido por sua representação gráfica do comportamento interacional de partículas, conhecido como Diagrama de Feynman.

d. Oppenheimer[2] (1904-67) físico nuclear, nascido em Nova Iorque, EUA. Estudou nas universidades de Harvard, Cambridge, Göttingen, Leyden e Zurique, depois ensinou física no Instituto de Tecnologia da Califórnia (1929). Em 1942 juntou-se ao projeto da bomba atômica e se tornou diretor do Los Amos Laboratory (1943-5). Foi presidente do comitê consultivo da US Atomic Energy Comission (1946-52) e em 1947 fez-se diretor e professor de física no Instituto de Estudos Avançados, em Princeton. Em 1953, foi suspenso das pesquisas nucleares secretas pelo conselho de revisão de segurança, por suas associações com comunistas pregressas, ainda que muitas pessoas se opusessem às acusações contra ele. Oppenheimer proferiu as Palestras Reith da BBC (1953) e recebeu o prêmio Enrico Fermi, em 1963.

III

Harry S. Truman (1884-1972)[3] foi o 33º presidente dos Estados Unidos e assumiu o cargo em um momento crítico da história mundial. Nascido em Lamar, Missouri, eleito senador pelo Partido Democrático em 1934, foi presidente de comitê especial de defesa, depois vice-presidente em 1944, tornando-se presidente após a morte de Roosvelt, e reeleito em 1948. Durante seu mandato, ele tomou decisões de grande impacto, sendo uma das mais controversas o uso das bombas atômicas no Japão durante a Segunda Guerra Mundial. Em 6 de agosto de 1945, Truman ordenou o lançamento da bomba atômica sobre a cidade de Hiroshima e, três dias depois, outra bomba atômica foi lançada sobre Nagasaki. Essas ações foram justificadas pelos Estados Unidos como um meio para acelerar o fim da guerra e evitar uma invasão sangrenta do Japão. O uso das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki é considerado um dos eventos mais controversos e trágicos da história moderna. Muitos questionaram a necessidade e a moralidade de empregar uma arma de destruição em massa que causou um sofrimento humano inimaginável e deixou um legado de devastação e doenças relacionadas à radiação. Apesar das críticas, alguns argumentam que o ataque nuclear ajudou a encerrar a Segunda Guerra Mundial, forçando a rendição do Japão e evitando um conflito prolongado. No entanto, essa decisão continua a ser debatida intensamente até os dias atuais, pois levanta questões éticas e morais sobre a justificação do uso da força extrema em conflitos armados. Além do controverso uso das bombas atômicas, o presidente Truman ficou conhecido por sua política externa e, em particular, pela “Doutrina Truman” (Truman Doctrine). Essa doutrina foi anunciada pelo presidente em 12 de março de 1947 e teve como objetivo conter a expansão do comunismo durante a Guerra Fria.

IV

a. Hiroshima é a capital da prefeitura de Hiroshima, no Japão. Cresceu em torno de um castelo feudal do século XVI. Recebeu o estatuto de cidade em 1589. Serviu de quartel-general durante a Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894–95) e a Guerra Russo-japonesa (1904-5). Em 6 de agosto de 1945, foi a primeira cidade do mundo arrasada pela bomba atômica de fissão denominada Little Boy, lançada pelo governo dos Estados Unidos, resultando em 250 000 mortos e feridos, mais de 75% dos prédios devastados. A cidade foi rapidamente reconstruída: aeroportos, ferrovias, universidades (1949). Hiroshima foi reconstruída após a guerra com a ajuda do governo nacional através da Lei de Construção do Memorial da Paz de Hiroshima, em 1949. Em 1949, um design foi selecionado para o Parque do Memorial da Paz de Hiroshima. O Saguão de Promoção Industrial da Província, a construção sobrevivente mais perto do local da detonação da bomba, foi designado como o Genbaku Dome (Domo Atômico), uma parte do Parque. O Museu Memorial da Paz de Hiroshima foi inaugurado em 1955, no Parque da Paz. Hiroshima foi proclamada uma Cidade da Paz pelo parlamento japonês em 1949.

b. Nagasaki é a capital e maior cidade da Prefeitura de Nagasaki, na Ilha Kyushu, Japão. Nagasaki foi um centro de influência colonial portuguesa entre os séculos XVI e XIX, e igrejas e locais cristãos em Nagasaki foram propostos para inscrição na Lista de Patrimônios Mundiais da UNESCO. Durante várias décadas foi considerada a capital do catolicismo nesse país. Parte de Nagasaki foi base da Marinha Imperial Japonesa durante a Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894-5) e a Guerra Russo-Japonesa. Durante a Segunda Guerra Mundial, Nagasaki foi a segunda cidade, e até hoje a última, a experienciar um ataque nuclear (às 11h02min de 9 de agosto de 1945, horário local). A cidade foi reconstruída após a guerra, embora drasticamente alterada. A reconstrução foi lenta. As primeiras habitações de emergência simples não foram fornecidas até 1946. O foco no redesenvolvimento foi a substituição das indústrias de guerra pelo comércio exterior, construção naval e pesca. Isso foi formalmente declarado quando a Lei de Reconstrução da Cidade Internacional de Nagasaki foi aprovada em maio de 1949. Novos templos foram reconstruídos, bem como novas igrejas para aumentar a presença do cristianismo. Alguns dos escombros foram deixados como um memorial, como um torii de uma perna no Santuário Sannō e um arco perto do marco zero. Novas estruturas também foram erguidas como memoriais, como o Museu da Bomba Atômica.

V – Conclusão

Nesse prelúdio não seria e nem poderia ser loquaz e muito menos não teria falta de concisão, porque assim foi exigido, se atentarmos com cuidado aquilo que manda a Torá.

Assim, explico sem ter prometido. O que escreverei agora, para muitos que talvez chegue até este trecho poderá parecer uma ousadia ou um destaque de minha convicção sobre a política norte-americana e alguns dos seus efeitos. Mas ressalto a importância do Secretário de Estado Marshall que deu o nome popular para o Programa de Recuperação da Europa, considerando um esquema de larga escala, tudo como meio termo de ajuda para tentar recuperar a Europa devastada (em 1947, mas rejeitado pela então União Soviética).

Agora coloca o Presidente Truman nesta história. Ele foi eleito vice-presidente dos Estados Unidos com Roosevelt e se tornou presidente com a morte deste último. Mais ainda: foi reeleito em 1948 e pertencia do partido Democrático como também, posteriormente, Obama e Biden.

Vindo de um estado sem expressão política ou econômica (Missouri) do Sul, historicamente já carrega aquilo que é lembrado como compromisso de Missouri (Missouri Compromise – 1820), ou seja, um acordo que o admitiu como Estado Escravagista juntamente com o Estado de Maine.

Com esse espírito, da sua origem, extremamente conservadora no sentido mais prometeico, recusou o pedido de Oppenheimer e autorizou os lançamentos das duas bombas atômicas em Nagasaki e Hiroshima, com muito tempo para refletir sobre os efeitos comprovados e trágicos e desumanos desta atitude que o marca com o pior estigma possível como ser humano, apesar que se apresentava como Cristão Evangélico e protestante! Duvido, não acredito, recuso que Truman não passasse, como penso, de um pianista que apreciava as valsas que os compositores ofereciam e ele as dedilhava: como vingar Pearl Harbor por décadas: então, as duas bombas atômicas num espaço de tempo que, se religioso fosse, jamais, em tempo algum, autorizaria a segunda!


JAYME VITA ROSO

Graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, é especialista em leis antitruste e consultor jurídico de fama internacional, ecologista reconhecido e premiado, “Professor Honorário” da Universidade Inca Garcilaso de La Vega de Lima, Peru, e autor de vários livros jurídicos. Saiba mais.

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[1] As biografias, assim como as cidades japonesas, foram retiradas da Penguin Encyclopedia (ed. David Crystal). Londres: Penguin Books, 2004 e a também consultada https://en.wikipedia.org/wiki.

[2] Balizado pelo instigante documento Memo of conversation with Dr. J. Robert Oppenheimer and Dean Acheson, September 25, 1945, disponível em: https://www.trumanlibrary.gov/library/research-files/memo-conversation-dr-j-robert-oppenheimer-and-dean-acheson .

[3] Destaco que o endereço de web https://www.trumanlibrary.gov/ foi usado para esta consulta.